Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

emancipação\"; mas \"contém ela dois defeitos capitais, que me fazem augurar mal de seus efeitos. 1° - abandona à sua sorte os atuais escravos; 2°- deixa as crianças, que diz libertar, escravas de fato até 21 anos\".

De onde vinham aqueles cabras e mulatões, aqueles capangas cada dia mais numerosos que, de 1880 a 1885, Felix notava nas ruas do Recife, nos comícios, nas manifestações promovidas por José Marianno? O aumento deles resultava precisamente da lei de 1871, tão louvada pelo entusiasta do Visconde de Rio Branco. O conselheiro Ottoni profetizara o desenvolvimento daquela classe de negros e mulatos livres mas desordeiros, turbulentos, insatisfeitos: \"O que serão aos 21 anos os ingênuos da lei, declarados repentinamente cidadãos, analfabetos, sem ofício, sem pecúlio, sem família, cheios de ódio naturalmente contra os que conservam suas mães no cativeiro? E dizer que cada ano lançará na sociedade 20 mil, 8 mil, 15 mil indivíduos naquelas condições!\"

E anos depois, Ottoni escreveria que a lei de 71 tornara \"indispensável a resolução radical de 13 de maio de 1888\"; resolução que, tanto quanto Felix, Ottoni considerava não ser \"a melhor, falando economicamente\".

Quanto à ação de Pedro II no movimento abolicionista, Ottoni reconhecia nas suas \"memórias íntimas\" que o monarca tivera a iniciativa da abolição; mas só a iniciativa. E quanto ao carater e às virtudes do Imperador é interessante contrastar as opiniões dos dois memorialistas que, escrevendo na mesma época,

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