dizem as pessoas mais velhas da família, outros cadernos, perdidos talvez em mudanças de casa. Não diz uma palavra sobre Canudos, por exemplo; apenas transcreve o discurso de um neto, de regozijo pela vitória do Exército sobre Antonio Conselheiro. À questão religiosa — Dom Vital versus maçonaria — faz apenas uma referência vaga. De Joaquim Nabuco apenas fala uma vez de passagem. Seus necrológios literários limitam-se a escritores franceses e portugueses e a Cesar Cantu: não se refere a José de Alencar nem a Gonçalves Dias ou Castro Alves. E é pena que tendo vivido tanto no Recife não nos fale do primeiro ônibus ou diligência suburbana — que foi novidade do seu tempo de moço: das carruagens que diante dos seus olhos substituiram os últimos palanquins; nem do primeiro lampião a gás; nem do primeiro bonde de burro; nem do primeiro trem; nem das modificações na arquitetura doméstica — casas novas em estilo gótico, italiano, suíço; nem dos teatros, das procissões, das festas a que comparecia e onde às vezes recitava versos.
Foi numa festa de aniversário — não no Recife mas em Santo Antão — que Papai-outro, depois de ouvir calado certo poeta novo recitar muito ancho versos da própria lavra, pregou-lhe esta peça: levantou-se, bateu no ombro do poeta e disse-lhe muito sério : "Não, meu velho, isso de versos inéditos é conversa: eu conheço sua poesia há muito tempo". E recitou, melhor que o autor, os versos que acabara de ouvir. Diante do assombro do poeta, e do espanto da sala é que ele