Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

esclareceu, muito enganjento de sua memória, que decorara os versos naquele instante, felicitando ao vate por ter produzido poesia tão bonita.

Também não nos fala — ele que gostava tanto de peixe, ou das marés, como se dizia na linguagem particular da família — de pescarias nem de ceias da Semana Santa, acontecimentos de enorme importância no Recife de sua época; principalmente para quem como ele morou mais de uma vez perto d'água: na rua Imperial, à beira dos grandes viveiros de Afogados e de Jiquiá, — donde nas vésperas das grandes ceias da Semana Santa se retiravam barricas de camorins, carapebas, curimans; perto das pescas de marisco de Fernandinho; perto dos mangues e dos alagados cheios de guaiamum e caranguejo; e em Olinda, perto do mar, com o excelente peixe d'água salgada dos pescadores de jangada à porta de casa.

Seu gosto literário ninguém deve esperar que fosse apurado, nem profundas suas leituras, nem sutis seus comentários sobre livros e escritores. Dumas e Sue foram os romancistas de sua predileção. Cantu, seu mestre de história e, até certo ponto, de filosofia da história. Sabia deles — dizem as tradições da família — trechos inteiros de cor. Também poesias de Victor Hugo e de Gomes do Amorim. E o Diccionario Popular de Pinheiro Chagas era-lhe particularmente caro.

Quando os telegramas no "Jornal do Recife" — que se tornou, não sei porque, seu jornal predileto — anunciavam a morte de um Dumas ou de um Cesar Cantú,

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