Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

Felix Cavalcanti registrava o acontecimento no seu "livro de assentos" com frases comovidas, às vezes exageradas. No registro sobre a morte de Dumas termina por tratar o morto glorioso por tu: "deixaste saudades". O mesmo faz com parentes mortos: conversa com eles, despede-se deles, como se os mortos o estivessem ouvindo.

Era crente e bom católico. Ia às missas aos domingos na Igreja de Afogados e às quintas na Boa Vista. Pertencia à Irmandade do Santíssimo Sacramento e acompanhava a procissão dos Passos e os enterros de irmãos, primeiro às igrejas — pois alcançou o tempo dos sepultamentos nas igrejas; depois ao cemitério. Não saía à rua que não fosse de croisé ou sobrecasaca preta. As roupas de mais luxo mandava fazer no Silva Cardozo "alfaiate da Casa Imperial" ou no Pavão, à rua da Imperatriz. Era freguês do armazém de fazendas do Martins, que vendia também camisas de linho e gravatas de seda. Mas sobretudo fazendas que o velho Felix preferia escolher por si sem sugestão nenhuma de caixeiro. Era ranzinza neste ponto: o caixeiro devia ficar calado enquanto ele escolhia o pano ou a gravata.

Calçava botinas pretas. Andava de bengala ou guarda-chuva. Principalmente de guarda-chuva: insígnia de autoridade já mais burguesa do que aristocrática. Usava apenas uma felpa de pera.

Sua sala de visitas estava sempre se iluminando, o chão ou o soalho da casa se amaciando de folhas de canela, para festas de família: de casamento e de formatura

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