Farias Brito; o homem e a obra

tinha a impressão de estar lidando com um homem que refletira mais do que aprendera. Sobre a mesa, vários livros de filosofia em vários idiomas e uma lâmpada de álcool incandescente. Usava-se ainda, em geral, nas casas, o gás de iluminação. Algumas cadeiras mais, uma estante com outros livros, e estava completo todo o modesto mobiliário do solitário estudioso.

Farias Brito versara bem a matéria e sobre ela, se expressava com eloquência, belamente. Em vez de citações, filtrava o manancial que lhe ficara de suas leituras; emitia ideias próprias. Nisto se assemelhava muito a Clóvis Bevilaqua. Ainda seu aluno, e sob o influxo dessas ideias, escrevi n'A República, de Fortaleza, de que já era, a essa época, um dos redatores, uma série de artigos, de agosto a dezembro de 1898, intitulados "Algumas ideias sobre filosofia jurídica".

Concomitantemente aprendi com ele o grego, de que me submeti mais tarde a concurso sendo ele um dos examinadores.

Acabada a preleção, passávamos a um cavaco que se tornou habitual, sobre outros assuntos, principalmente históricos e literários, e porque essas palestras jamais tiveram por alvo a vida alheia ou a política, conversando com ele era como se atraísse um ímã encantador. Os instantes derivavam sem que eu desse conta deles...

...Que dizer do indivíduo? Farias Brito foi um puro, nada mais. Como sentimento, duas coisas me deram a conhecer as vibrações sonoras de sua alma: a reverência do amor filial pelo digno ancião que era seu genitor e os carinhosos desvelos com que procurava cercar o tenro legado que lhe deixaram os castos extremos da esposa desaparecida. Filósofo, vivia para a sua ortodoxia, para as suas opiniões e para os seus livros; homem superior, superiorizava-o um completo e absoluto desprezo de interesses e condições dos bens materiais da vida.

Farias Brito; o homem e a obra - Página 335 - Thumb Visualização
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