A conquista do deserto ocidental: subsídios para a história do território do Acre

por sua vez, diziam-se escravizados ao grande aviador, ao fisco e ao frete. Trinta e quatro por cento era o peso da tributação fiscal, do frete e das comissões dos comissários de venda. Além disso havia o beneficiamento, o entreposto, a "quebra". Havia o transporte do "centro" para a margem. "Cada muar custa, em média, 900$000." diz um relatório de Plácido. E "devido principalmente à epizootia terrível que dizima anualmente", o proprietário era obrigado a permanentes aquisições de alimárias. Oitenta quilômetros era a distância média do "centro" ao porto. Alegavam, também, o prejuízo dos engajamentos. Duma leva de cem homens, feitas todas as despesas, apenas sessenta chegavam ao seringal. Quarenta, adoeciam, morriam ou arribavam em Belém ou Manaus. O drama do proprietário não era o drama do "centro", mas o drama da margem. Aqui, não entrava coisa alguma da angustiosa tragédia humana do "centro". Aqui era a luta entre capitalistas, num plano mais superior do cálculo e do lucro. Lutava-se pela conservação e pelo expansionismo das propriedades. Havia, aqui, uma angústia pitagórica, sustentada pela flutuação dos mercados, pelo jogo do câmbio e das cotações. Não se tratava dum sofrimento de entranhas, nem de perplexidades físicas. Entre o homem proprietário da margem e o homem assalariado do "centro", a diferença era esta: um suava em meditação, o outro em sangue. Um devia dinheiro, o outro a vida. Um caía e levantava, o outro caía e rastejava. Um podia ter dinheiro, outro devia ter obrigações. Um sofria reclamando e exigindo, o outro sofria agradecendo e humilhando-se.

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