A conquista do deserto ocidental: subsídios para a história do território do Acre

De maneira que uma pancada na margem, repercutia duas vezes no "centro". E ainda que sua produção em safra atingisse à impressionante cotação de 10$ a 14$000 o quilo, o "saldo" do seringueiro, muitas vezes, não cobria as despesas ou, cobrindo-as, não dava para comprar uma fazenda ou uma engenhoca no Ceará. Porque o nordestino só admitia o regresso com a libertação. Livrar-se do fazendeiro ou do senhor de engenho. Fazer vida própria. Também ser proprietário.

Diante da grande impossibilidade as aspirações do seringueiro adventício se reduziam. Já se contentava em descer do "centro". para a margem, ter aí um trato de terra, a mulher e a barraca. Ganhar a sua compensação humilde, mas íntima. Modesta, mas humana. Voltava-lhe o instinto da agricultura, da criação, da economia patriarcal.

Estava preparado o advento dos pequenos proprietários pobres, sem mais ilusão alguma, com uma lavoura que, mesmo sendo incipiente e apenas dando para alimentar a família, livrava-os, contudo, da opressão dos seringais. Dado esse passo de fixação, o nordestino passaria a considerar, doutro jeito, a sua participação nos serviços da seringa. Independente, trabalharia nas safras sem estar sujeito a outro regime que o da divisão de estradas. Entregaria ao seringalista o produto de seu trabalho e voltaria para a sua roça, onde a mulher e os filhos-meninos cuidariam da plantação. Estes pequenos proprietários pobres, com os deficientes "saldos" acumulados, passariam a arrendar estradas. Então, já por conta própria, manobrariam na seringa. Desse modo se entrosariam nas margens dos rios livres (porque os havia "fechados" por senhores do rio todo).

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