A conquista do deserto ocidental: subsídios para a história do território do Acre

as raparigas, criava uma geração de homens filhos de peixe, que, certamente, ao atingirem a idade adulta se transformariam em defensores de todos os peixes perseguidos.

Tudo isto é muito simples, mesmo infantil. Ainda seria o século do matriarcado, dos casamentos por grupos, da poligamia e da poliandria. Ainda no tempo em que as icamiabas se reuniam no Lago do Espelho da Lua (Iiací-uaruá), na base da serra do Copo, a fim de esperar os homens das outras tribos que haviam de fecundá-las. Nessa ocasião, depois do pacto amoroso, as icamiabas golpeavam-se com o sílex. Gotas de sangue caíam nas águas do lago. Então os peixes mudavam de forma e transformavam-se em pedra, guardando, entretanto, a cor primitiva. As icamiabas mergulhavam e recolhiam as pedras do encantamento e com elas recompensavam os homens que as tinham possuído. Era isto que se chamava o "muiraquitã". Portanto entre caçadores-pescadores, o símbolo do amor ainda era o peixe e a lenda do boto não deixa de ser uma ratificação do mesmo símbolo.

O peixe, pelo vigor da sua multiplicação, representava bem aquela era em que as mulheres podiam pertencer a vários homens e os homens podiam fecundar várias mulheres. O amor era copiado da vida dos bichos florestais e dos rios. Todo o sistema de organização provinha do instinto procriador, bastante livre e simples.

Porém quando o tupi começou a interessar-se pela cultura agrícola e para ele iniciou-se o ciclo do milho; quando descobriu as vantagens da mandioca e outras raízes similares, o nomadismo da caça e da pesca cedeu à fixação periódica, porém

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