não se acreditasse na invasão espanhola. De Laguna até aqui a costa é tão baixa e tão castigada pela fúria de um mar perigoso às pequenas embarcações que nem por sombra poder-se-ia julgar que os inimigos aí se atrevessem a desembarcar. De qualquer modo a construção está sendo tocada, orientada para o norte e podendo ser dotada de quatro peças de artilharia. Em sua construção empregam-se cerca de 30 prisioneiros tomados a Artigas. Todos são índios, salvo apenas um. Entretanto a maior parte mostra traços de sangue espanhol. Uns vieram das Missões, outros de Entre Rios e outros do Paraguai. Quero crer que se atiraram à luta visando somente a pilhagem.
Esses homens são todos baixos, têm o peito de largura exagerada, os cabelos negros e lisos, o pescoço curto, uma fisionomia verdadeiramente ignóbil. O alferes fez, entretanto, o elogio de sua docilidade. Alguns haviam fugido com o intento de voltar à pátria atravessando a grande cordilheira; obstáculos intransponíveis fizeram com que retrocedessem e fossem de novo aprisionados. Todos conhecem o espanhol e a língua geral. Contudo notei que eles empregam, nesta última língua, vocábulos às vezes diferentes dos que se acham consignados no dicionário dos jesuítas.
Torres, 6 de junho — Acho-me tão cansado pela viagem dos dias anteriores que exigi de meu guia a permanência aqui, por um dia. Aproveitei para pôr em ordem minhas coleções e para passear pelos montes denominados Torres. Tendo já descrito uma parte do que fica ao norte terminarei agora a descrição. É alongado, desigual e quase todo coberto de relva. O avanço que tem sobre o mar é arredondado como uma torre. Oferece às ondas verdadeira muralha de rochedos cortados a pique e termina por uma plataforma onde vegeta um erval extremamente raso. Em alguns trechos