Tratado descritivo do Brasil em 1587

CAPÍTULO LII: Em que se explica a terra da baía do Rio de Janeiro da ponta da cidade para dentro até tornar à barra.



Na ponta desta cidade o ancoradouro dos navios, que está detrás da cidade, está uma ilheta, que se diz a da madeira, por se tirar dela muita; a qual serve aos navios que aqui se recolhem de consertar as velas. E desta ponta a uma légua está outra ponta, fazendo a terra em meio uma enseada; onde está o porto que se diz de Martim Afonso, onde entra nesta baía um riacho, que se diz Yabubiracica; defronte deste porto de Martim Afonso estão espalhados seis ilhéus de arvoredo. E desta ponta por diante se torna a terra a recolher, à maneira de enseada, e dali a meia légua faz outra ponta e antes dela entra outro riacho no salgado, que se chama Unhauma [Inhaúma]; e à ponta se chama Braço pequeno. Desta ponta que se diz Braço pequeno por diante foge a terra para trás muito, onde se faz um esteiro, por onde entra a maré três léguas; e fica a terra na boca deste esteiro de ponta a ponta, um tiro de berço: donde começa a terra a fazer outra enseada, que de ponta a ponta são duas léguas, a qual terra é alta até a ponta. Defronte desta enseada está a ilha de Salvador Corrêa, que se chama Parnapicú, que tem três léguas de comprido, e uma de largo, em a qual está um engenho de açúcar, que lavra com bois, que ele fez. Atravessando esta ilha por mar à cidade são duas léguas, a qual ilha tem em redor de si oito ou nove ilhas, que dão pau-brasil. Do cabo desta enseada grande, e da ponta da terra alta, se faz outra