Tratado descritivo do Brasil em 1587

do que nunca saíram bem. E como Mem de Sá viu que tinha lançado os inimigos da porta, ordenou de fortificar este Rio, fazendo-lhe uma estância ao longo d'água para defender a barra, a qual depois reedificou Christovam de Barros, sendo capitão deste Rio; e assentou a cidade, que murou com muros de taipas com suas torres, em que pôs artilharia necessária; onde edificou algumas igrejas com sua casa de Misericórdia e hospital, e um mosteiro de padres da Companhia, que agora é colégio, em que os padres ensinam latim; para o que lhe faz S. A. mercê cada ano de dois mil cruzados. E acabada de fortificar e povoar essa cidade, ordenou o governador de se tornar para a Bahia, deixando nela por capitão a seu sobrinho Salvador Corrêa de Sá com muitos moradores e oficiais de justiça e de fazenda convenientes ao serviço d'El-Rei e ao bem da terra; o qual Salvador Corrêa defendeu esta cidade alguns anos mui valorosamente, fazendo guerra ao gentio, de que alcançou grandes vitórias, e dos franceses, que do Cabo Frio os vinham ajudar e favorecer; aos quais foi tomar dentro do Cabo Frio uma nau que passava de duzentos tonéis, com canoas que levou do Rio de Janeiro, com as quais a abalroou e tomou à força de armas. A esta cidade mandou depois El-Rei D. Sebastião por capitão e governador, Christovam de Barros, que a acrescentou, fazendo nela em seu tempo muitos serviços à S. A., que se não podem particularizar em tão pequeno espaço.