CAPÍTULO XIV: Que trata de como se pode defender a Bahia com mais facilidade.
Não parece despropósito dizer neste lugar, que tem El-Rei Nosso Senhor obrigação de com muita instância mandar acudir ao desamparo em que esta cidade está, mandando-a cercar de muros e fortificar, como convém ao seu serviço e segurança dos moradores dela; porque está arriscada a ser saqueada de quatro corsários, que a forem cometer, por ser a gente espalhada por fora, e a da cidade não ter onde se possa defender, até que a gente das fazendas e engenhos a possa vir socorrer. Mas enquanto não for cercada, não tem remédio mais fácil para se poder defender dos corsários que na Bahia entrarem, que pelo mar com quatro galeotas que com pouca despesa se podem fazer, e estarem sempre armadas; à sombra das quais podem pelejar muitas barcas dos engenhos, e outros barcos, em que se pode cavalgar artilharia, para poderem pelejar; e esta armada se pode favorecer com as naus do reino, que de contínuo estão no porto oito e dez, e daqui para cima até 15 e 20, que estão tomando carga de açúcar e algodão, em as quais se pode meter gente da terra a defender, e alguma artilharia com que ofender aos contrários, os quais se não levarem a cidade do primeiro encontro, não a entram depois, porque pode ser socorrida por mar e por terra de muita gente portuguesa até a quantia de dois mil homens, de entre os quais podem sair dez mil escravos de peleja, a saber: quatro mil pretos de Guiné, e seis mil índios da terra mui bons flecheiros, que juntos