Tratados da terra e gente do Brasil

Narrativa, p. 275

Comemos debaixo de um cajueiro muito fresco, carregado de acajus, que são como peros repinaldos ou camoeses, são uns amarelos, outros vermelhos, tem sua castanha no olho, que nasce primeiro que o pero, na qual procede o pero; é fruta gostosa, boa para o tempo de calma e toda se desfaz em sumo, o qual põe nódoas em roupa de linho ou algodão que nunca se tira.

Das castanhas se fazem massapães e outras cousas doces, como de amêndoas: as castanhas são melhores que as de Portugal, a árvore é fresca, parece-se com os castanheiros, perde a folha de todo.

Purchas, IV, p. 1.306

Estas árvores são muito grandes, formosas, perdem a folha em seu tempo, e a flor se dá em os cachos que fazem umas pontas como dedos, e nas ditas pontas nasce uma flor vermelha de bom cheiro, e após ela nasce uma castanha, e da castanha nasce um pomo do tamanho de um repinaldo ou maçã camonesa; é fruta muito formosa, e são alguns amarelos, outros vermelhos e tudo é sumo: são bons para a calma, refrescam muito e o sumo põe nódoa em pano branco que se não tira senão quando se acaba. A castanha é tão boa ou melhor que a de Portuga, comem-se assadas e cruas, deitadas em água como amêndoas piladas, delas fazem massapães e bocados doces.

O segundo é sobre a mangaba:

Narrativa epistolar, p. 276

Caminhamos toda tarde por uns mangabães que se parecem alguma cousa com maceiras de anáfega, dão umas mangabas amarelas, do tamanho e feição de alborque, com muitas pintas pardas que lhe dão muita graça; não têm caroço, mas umas pevides mui brandas que também se comem, a fruta é de maravilhoso gosto, tão leve e sadia que, por mais que uma pessoa coma, não há fartar-se, sorvem-se como sorvas, não amadurecem na árvore, mas caindo amadurecem no chão ou pondo-as em madureiros; dão no ano duas camadas, a primeira

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Purchas, IV, p. 1.307

Destas árvores há grande cópia, máxime na Bahia, porque nas outras partes são raras; na feição se parece com maceira de anáfega e na folha com a de freixo; são árvores graciosas, e sempre têm folhas verdes. Dão duas vezes por ano, a primeira de botão, porque não deitam então flor, mas o mesmo botão é a fruta; acabada esta camada que dura dois ou três meses, dá outra, tornando primeiro flor a qual é toda como de jasmim, e de tão bom cheiro, mas mais esperto, a fruta é do tamanho de abricós, amarela e salpicada de algumas

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