Tratados da terra e gente do Brasil

compreensão do fenômeno da primeira colonização do país. Foi dos precursores da nossa História, quando ainda o Brasil, por assim dizer, não tinha história; por isso mesmo, como a respeito de Gândavo já se observou, a sua história é antes natural que civil, ou uma e outra cousa ao mesmo tempo. Nele há o geógrafo, que estuda a terra, suas divisões, seu clima, suas condições de habitabilidade; o etnógrafo, que descreve os aborígines, seus usos, costumes e cerimônias; o zoólogo e o botânico, por igual aparelhado para o exame da fauna e da flora desconhecida; mas há também o historiador diserto, que discorre sobre as missões dos jesuítas, seus colégios e residências, o estado das capitanias, seus habitantes e suas produções, o progresso ou a decadência da colônia, e suas causas, sobre a vida, enfim, daquela sociedade nascente, de que participava. Seus depoimentos são os de testemunha presencial, e valem ainda mais pela espontaneidade e pela sinceridade com que singelamente os prestou.

Comparte daquelas missões abnegadas, que a Sociedade de Jesus recém-criada espalhava pelo mundo afora "para maior glória de Deus" — Fernão Cardim, pelas circunstâncias de sua vida, ficou entre José de Anchieta e Antonio Vieira, formando uma tríade maravilhosa a dominar a legião imensa daqueles apóstolos que educaram os nossos primeiros patrícios, que os defenderam do opróbrio da escravidão, que presidiram, enfim, a fundação da nacionalidade brasileira.

A vida de Fernão Cardim é quase desconhecida. A data de seu nascimento é incerta. Ele próprio, qualificando-se em 14 de agosto de 1591 perante a mesa do Santo Ofício a que presidia o visitador Heitor Furtado

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