Tratados da terra e gente do Brasil

primeira mesa, com capela de flores na cabeça; depois da comunhão lhes deitou o padre ao pescoço algumas verônicas e nôminas com Agnus Dei de várias sedas, com seus cordões e fitas, de que todos ficaram mui consolados. Um destes era um grande principal por nome Mem de Sá (XLII), que havia 20 anos que era cristão; foi tanta a consolação, que teve de ter comungado, que não cabia de alegria. Todo o dia trouxe a capella na cabeça e a guardou, dizendo que a havia de ter guardada até morrer, para se lembrar da mercê que Nosso Senhor lhe fizera em o chegar a poder comungar.

É muito para ver e louvar Nosso Senhor a grande devoção de fervor, que se vê nestes índios, quando hão de comungar; porque os homens quase todos se disciplinam à noite antes, por espaço de um Miserere, precedendo ladainha e sua exortação espiritual na língua: dão em si cruelmente; nem têm necessidade de esperar pela noite, porque muitos por sua devoção, acabando-se de confessar ainda que seja de dia, se disciplinam na igreja, diante de todos, e quase todos têm disciplina, que sabem fazer muito boas.

As mulheres por sua devoção jejuam dois ou três dias antes, e todos ao comungar têm muita devoção, e choram alguns muitas lágrimas; confessam-se de cousas mui miúdas, e ao dia da comunhão se tornam a reconciliar, por levíssima que seja a matéria da absolvição. Se lhes dizem que não é nada, que vão comungar, respondem: pai, como hei de comungar sem me absolveres?

No meio da missa houve pregação na língua, e depois procissão solene com danças e outras invenções. O padre visitador levava o Santíssimo Sacramento em

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