uma custódia de prata debaixo do pálio e as varas levavam alguns principais, e levam-nas tão atento propósito, e vão tão devotos ou pasmados, que é para ver. Tive grande consolação em confessar muitos índios e índias, por intérprete (XLIII); são candidíssimos, e vivem com muito menos pecados que os portugueses. Dava-lhes sua penitência leve, porque não são capazes de mais, e depois da absolvição lhes dizia, na língua: xê rair tupã toçô de hirunamo (XLIV), sc. "filho, Deus vá contigo".
Acabada a festa espiritual lhes mandou o padre visitador fazer outra corporal, dando-lhes um jantar a todos os da aldeia, debaixo de uma grande ramada. Os homens comiam a uma parte, as mulheres a outra: no jantar se gastou uma vaca, alguns porcos mansos e do mato, com outras caças, muitos legumes, frutas, e vinhos feitos de várias frutas, a seu modo. Enquanto comiam, lhes tangiam tambores, e gaitas. A festa para eles foi grande, pelo que determinaram à tarde alegrar o padre, jogando as laranjadas, fazendo motins e suíças de guerra a seu modo, e à portuguesa. Quando estes fazem estes motins, andam muito juntos em um corpo como magote com seus arcos nas mãos, e molhos de flechas levantados para cima; alguns se pintam, e empenam de várias cores. As mulheres os acompanham, e os mais deles nus, e juntos andam correndo toda a povoação, dando grandes urros, e juntamente vão bailando, e cantando ao som de um cabaço cheio de pedrinhas (como os pandeirinhos dos meninos em Portugal (XLV). Vão tão serenos e por tal compasso que não erram ponto com os pés, e calcam o chão de maneira que fazem tremer a terra. Andam tão inflamados em braveza, e