Tratados da terra e gente do Brasil

mostram tanta ferocidade, que é cousa medonha e espantosa. As mulheres e meninos também os ajudam nestes bailos e cantos; fazem seus trocados e mudanças com tantos gatimanhos e trejeitos, que é cousa ridícula. De ordinário não se bolem de um lugar, mas estando quedos em roda, fazem os meneios com o corpo, mãos e pés. Não se lhes entende o que cantam, mas disseram-me os padres que cantavam em trova quantas façanhas e mortes tinham feito seus antepassados. Arremedam pássaros, cobras e outros animais, tudo trovado por comparações, para se incitarem a pelejar. Estas trovas fazem de repente, e as mulheres são insignes trovadoras. Também quando fazem este motim tiram um e um a terreiro, e ambos se ensaiam até que algum cansa, e logo lhe vem outro acudir. Algumas vezes procuram de vir a braços e amarrar o contrário, e tudo isto fazem para se embravecer. Enfim por milagre tenho o domar-se gente tão fera; mas tudo pode um zeloso e humilde, cheio de amor de Deus, e das almas, etc.

Moravam os índios, antes da sua conversão, em aldeias, em umas ocas (XLVI) ou casas mui compridas, de 200, 300, ou 400 palmos, e 50 de largo, pouco mais ou menos, fundadas sobre grandes esteios de madeiras, com as paredes de palha ou de taipa de mão, cobertas de pindoba, que é certo gênero de palma que veda bem água, e dura três ou quatro anos. Cada casa destas tem dois ou três buracos sem portas meus fecho: dentro nelas vivem logo cento ou 200 pessoas, cada casal em seu rancho, sem repartimento nenhum, e moram duma parte e outra, ficando grande largura pelo meio, e todos ficam como em comunidade, e entrando na casa se vê quanto nela está,

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