por cá há, e só em um ano colheu oito mil cruzados dele, sem lhe custar nada. Tem tanto gado que lhe não sabe o número, e só do bravo e perdido sustentou as armadas de el-rei. Agasalhou o padre em sua casa armada de guadamecins com uma rica cama, deu-nos sempre de comer aves, perus, manjar branco, etc. Ele mesmo, desbarretado, servia a mesa e nos ajudava à missa, em uma sua capela, a mais formosa que há no Brasil, feita toda de estuque e timtim de obra maravilhosa de molduras, laçarias, e cornijas; é de abóbada sextavada com três portas, e tem-na mui bem provida de ornamentos. Nesta e outras ermidas me lembrava de Vossa Reverência, e de todos dessa província.
Daqui partimos para a aldeia, atravessando pelo sertão, caminhamos toda a tarde por uns mangabais que se parecem alguma cousa com maceiras de anáfega. Dão umas mangabas amarelas, tamanho e feição de albricoques, com muitas pintas pardas que lhes dão muita graça; não têm caroço, mas umas pevides mui brandas que também se comem; a fruta é de maravilhoso gosto, tão leve e sadia que, por mais que uma pessoa coma não há fartar-se, sorvem-se como sorvas, não amadurecem na árvore, mas cabindo amadurecem no chão ou pondo-as em madureiros; dão no ano duas camadas, a primeira se diz de botão, e dá flor, mas o mesmo botão é a fruta. Estas são as melhores e maiores, e vêm pelo natal; a segunda camada é de flor alva como neve, da própria maneira que a de jasmim, assim na feição, tamanho e cheiro. Estas árvores dão-se nos campos, e com se queimarem cada ano as mais delas dão no mesmo ano fruto. De quando em quando nos ajudávamos delas para passar aqueles matos. Aquela noite nos