Tratados da terra e gente do Brasil

agasalhou um feitor do mesmo homem de que acima falei, a quem ele tinha mandado recado. Fomos providos de todo o necessário com toda a limpeza de porcelanas e prata, com grande caridade.

Ao dia seguinte, às dez horas pouco mais ou menos, chegamos à aldeia de Santo Antonio: dos índios fomos recebidos com muitas festas a seu modo, que deixo por brevidade, e ao domingo seguinte batizou o padre visitador antes da missa 60 adultos, vestido de pontificial, com grande alegria e festa, e consolação de todos. Na missa, que foi de canto de órgão, casou a muitos em lei de graça, e deu a comunhão a 80; e tudo se fez com as mesmas festas e música que na aldeia do Espírito Santo. À tarde lhes mandou dar o padre um bom jantar em que se gastou uma vaca, muitos porcos do mato, que eles mesmo traziam mortos e os deitavam aos pés do padre (têm estes porcos o umbigo nas costas, e em algumas cousas diferem dos de Portugal). Havia mesa em que por banda cabiam cem pessoas: os índios à tarde, para fazerem festa ao padre jogaram as laranjadas, fizeram os seus motins de guerra, e foram a um rio de noite dar tingui, sc. barbasco ao peixe, e ficaram bem providos, trouxeram tantos ao padre, que encheram duas grandes gamelas, que era uma formosura de ver. Ao dia seguinte levou o padre visitador todos os padres e irmãos a um rio caudal que estava perto de casa, aonde ceamos. Iam conosco alguns 60 meninos nusinhos, como costumam. Pelo caminho fizeram grande festa ao padre, umas vezes o cercavam, outras o cativavam, outras arremedavam pássaros muito ao natural; no rio fizeram muitos jogos ainda mais graciosos, e têm eles na água muita graça em qualquer cousa que fazem.

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