Tratados da terra e gente do Brasil

rio à vista do mar; e pelo lugar ser solitário causava não pequena devoção: de quando em quando pescávamos para aliviar as moléstias que consigo traz uma arribada. Aqui nos visitou um padre nosso que residia no Camamu, com um bom refresco de uma vitela, porco, galinhas, patos, e outras aves, e frutas, com muita caridade.

Daqui partimos o segundo de julho, e aos 14 do mesmo, dia de São Boaventura, perto do meio dia, deitamos ferro no arrecife de Pernambuco, que dista da vila uma uma légua. Logo vieram dois irmãos com rede e cavalos, em que fomos, e no colégio fomos recebidos do padre Luiz da Grã (LVI), Reitor, e dos mais padres e irmãos com extraordinária alegria e caridade. Ao dia seguinte se festejou dentro de casa, como cá é costume, o martírio do Padre Ignacio de Azevedo e seus companheiros com uma oração em verso no refeitório, outra em língua de Angola, que fez um irmão de 14 anos com tanta graça que a todos nos alegrou, e tornando-a em português com tanta devoção que não havia quem se tivesse com lágrimas. No tempo do repouso, que estava bem enramado, o chão juncado de manjericões, se explicaram alguns enigmas e deram prêmios. À tarde fomos merendar à horta, que tem muito grande, e dentro nela um jardim fechado com muitas ervas cheirosas, e duas ruas de pilares de tijolo com parreiras, e uma fruta que chamam maracujá, sadia, gostosa e refresca muito o sangue em tempo de calma, tem ponta de azedo, é fruta estimada. Tem um grande romeiral de que colhem carros de romãs, figueiras de Portugal, e outras frutas da terra. E tantos melões, que não há esgotá-los, com muitos pepinos e outras boas comodidades.

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