Tratados da terra e gente do Brasil

Espadarte – Destes peixes há grande multidão, são grandes, e ferozes, porque têm uma tromba como espada, toda cheia de dentes ao redor, muito agudos, tão grandes como de cão, ou maiores, são de largura de uma mão travessa, ou mais, o comprimento é segundo a grandura do peixe; algumas trombas, ou espadas destas são de oito e dez palmos; com estas trombas fazem cruel guerra às baleias, porque alevantando-a para cima, dando tantas pancadas nelas, e tão a miúde que é cousa de espanto, acodem ao sangue os tubarões, e as chupam de maneira até que morrem, e desta maneira se acham muitas mortas, e em pedaços. Também com esta tromba pescam os peixes de que se sustentam. Os índios usam destas trombas quando são pequenas para açoitarem os filhos, e lhes meterem medo quando lhes são desobedientes.

Tartaruga – Há nesta costa muitas tartarugas; tomam-se muitas, de que se fazem cofres, caixas de hóstias, copos, etc. Estas tartarugas põem ovos nas praias, e põem logo 200 e 300; são tamanhos como de galinha, muito alvos, e redondos como pelas; escondem estes ovos debaixo da areia, e como tiram os filhos logo começam de ir para água donde se criam. Os ovos também se comem, têm esta propriedade que ainda se cozam, ou assem sempre a clara fica mole; os intestinos são como de porco, e têm ventas por onde respiram. Tem outra particularidade que pondo-lhe o focinho para a terra logo viram para o mar, nem podem estar doutra maneira. São algumas tão grandes que se fazem das conchas inteiras adargas; e uma se matou nesta costa tão grande que 20 homens a não podiam levantar do chão, nem dar-lhe vento.

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