a água está coberta pelas plantas aquáticas de que acima falei, em um tecido tão basto e compacto que um homem deitado em cima se sustenta: e tanto é assim que, quando nas primeiras enchentes o rio destaca algum pedaço deste imenso tapete para arrastá-lo em sua serena e vagarosa corrente, os tigres costumam embarcar em cima, e assim viajam dias: a planta que forma este tecido é uma espécie de lírio aquático de flores brancas em cachos, com o cálice da corola às vezes roxo, às vezes cor-de-rosa; é conhecida pelo nome guarani de aguapé". Em alguns rios brasileiros, diz o botânico Hoehne, é tão abundante que "deslocada e desenraizada dos remansos onde vive, é levada pela corrente das águas, formando verdadeiras ilhas flutuantes e oferecendo obstáculos às pequenas embarcações". São estas ilhas, diz Nelson de Senna, formadas pela vegetação de aguapé, que tomam o nome de camalotes, nos rios da bacia platina, segundo descrevem os exploradores e viajantes dessa região (Revista de Língua Port. N. 31, pág. 188). Da Bahia a Pernambuco, chamam-se baronesas às pontederiáceas que cobrem largos trechos dos rios e lagoas.
Aguapezal: Luiz Carlos de Moraes, em seu Vocabulário Sul-Rio-Grandense, aparecido em 1935, informa que se diz aguapezal no Rio Grande do Sul o local onde há grande extensão de água coberta de aguapés.
Água-redonda: termo da Amazônia, usado pelos caboclos no sentido de lago. É o que informa Agassiz em sua Viagem ao Brasil (1865-1866) (Tradução de E. Sussekind de Mendonça. Pág. 291. Vol. 95 da "Brasiliana"). Encontramo-lo também referido na A Amazônia Misteriosa de Gastão Cruls, no seguinte passo, à pág. 290: "A natureza parecia magnetizada aos eflúvios do plenilúnio e aquela água redonda, dormindo no quiriri (calada da noite), entre a fragrância dos uapés em flor, era bem o lago Iaciuaruá ou Espelho da Lua".
Águas: no Brasil sertanejo este vocábulo, usado no plural, é empregado no sentido de chuvas. Frequentes são as seguintes expressões tabaroas: "no tempo das águas"; "as primeiras águas"; "após as águas" (esta registada por Cornelio Pires n'As Estrambóticas Aventuras do Joaquim Bentinho, à pág. 114). Em Portugal, segundo informa Candido de Figueiredo, há na Beira o provincialismo — águas novas — primeiras chuvas depois do estio.
Águas iguais: assim denominam os pescadores da região do Salgado, no Estado do Pará, às marés do quarto dia depois da lua nova e da lua cheia, em virtude de nesse dia não crescerem nem diminuírem (Informação de Henrique Jorge Hurley).