Os sertanejos que eu conheci

Outras caçadas defensivas e menos arriscadas, são as dos jacarés e dos sucuriús. Uns e outros, verdadeiros monstros, frequentes nos sertões, sempre malfazejos e traiçoeiros e, por isso, perigosíssimos para os moradores fixados nas beiras de rios e lagos, ou em regiões de brejos, "baixões" alagadiços e buritizais.

O jacaré costuma manter-se em águas fundas e tranquilas, junto às ribanceiras sobre as quais se erguem as moradas. Rondam sem cessar perto dos "portos" e das "fontes", isto é, dos recantos sombrios onde ficam amarrados barquinhos e ubás usados pelos ribeirinhos. É lá, também, que as mulheres descem para lavar roupas, limpar panelas e utensílios, abrir e esvaziar peixes e caças diversas. Por lá passeiam todas as criações domésticas, galinhas, patos, porcos e cães, à procura de algum alimento.

Quantas vezes o jacaré, aproveitando a ausência da gente, se aproxima do barco, atraído pelo cheiro das carnes ou frutas nele depositadas e se apodera vorazmente de tudo! Em outras ocasiões, aliás bem frequentes, o sáurio faminto avista o pato ou o franguinho ciscando à beira d'água, observa-os paciente, mergulhando e deixando de fora apenas os dois olhos plantados em cima da hedionda cabeça. Quando, enfim, vê o bichinho aproximar-se descuidado, precipita-se sobre a vítima e arrasta-a para o fundo.

O jacaré não hesita em atacar o homem desprevenido, em horas de banho ou travessia de rios. Toda cautela é, por isso, necessária. Infelizmente a pobre espingarda sertaneja de nada serve contra ele, pois que nem as balas de aço da poderosa carabina Winchester podem traspassar a sua carapaça. O sistema comumente empregado para capturá-lo, consiste em espetar num enorme anzol de ferro um pedaço de carne de peixe ou um frango morto. O sáurio avança sobre a apetitosa isca e engole-a junto com o anzol. Basta, então, segurar a corda que serve de linha e puxar o bicho para fora d'água a fim de matá-lo a cacetadas.

Pena é que os sertanejos não saibam e nem possam tirar proveito desta caça. Não dispõem de meios para conservar e preparar o couro tão apreciado para a confecção de calçados e outros artefatos de luxo. Contentam-se, em certos apertos de fome, de retalhar a extremidade do rabo do jacaré e comem a carne branca e fina que dizem ser bastante saborosa.

O sucuriú tem por habitat os brejos escuros, os terrenos baixos e alagadiços, os buritizais das lagoas e sobretudo os

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