nossa gente prepara de tal forma que chega a lhes dar um macio aveludado, quase igual ao das mais belas pelicas.
Outra caçada proveitosa é a da anta ou tapir; possante animal, em nada perigoso e cuja carne, além de abundante, é saborosa e nutritiva. O couro, de extraordinária grossura, que nem os mais agudos espinhos e cipós das matas virgens podem rasgar, presta-se admiravelmente para a confecção de arreios, correias e calçados. Os courinhos dos filhotes de anta, listrados de branco sobre fundo castanho, empregam-se no feitio de lindas chinelas usadas pelas mulheres em dias de festa.
A caçada da anta se faz com cães adestrados que a obrigam a afundar em algum poço, e, com seus latidos, mantêm-na cercada até a chegada do caçador. Como o bicho tem de vir à tona para respirar, o caçador aproveita-se daquele instante para desfechar-lhe um tiro ou, se o poço for estreito, dar-lhe a cutilada mortal. Retalham a carne da anta como a dos bois, salgando-a e secando ao sol para conservá-la por muitos dias.
Os porcos-do-mato, os queixadas e caititus são outras caças muito apreciadas, não pelo sabor da carne, mas pelo valor usual e comercial dos couros. Esses suínos selvagens encontram-se às centenas, em bandos barulhentos, pelo interior das matas, à procura de raízes e de cocos. A sua passagem nas vizinhanças dos sítios costuma causar graves danos às plantações. Suas excursões periódicas, em certos tempos do ano, são migrações efetuadas sob impulso de misterioso instinto cujo ímpeto nem rios largos como o Tocantins e o Araguaia podem sustar ou desviar.
Quando os sertanejos têm a fortuna de deparar com um desses rebanhos, matam porcos a valer; e com maior facilidade ainda, se a manada for alcançada ao atravessar um rio. Em poucos momentos, realiza-se, então, verdadeira hecatombe, sem grande trabalho e nenhum perigo.
Quando, porém, o encontro se dá em terra firme, tornam-se necessárias muitas precauções. O perigo habitual para os caçadores é o de se verem, logo depois dos primeiros tiros, rodeados e ameaçados por dúzias de porcos enfurecidos. O único meio de preservar-se de seus ataques é trepar logo numa árvore e lá ficar até à retirada dos bichos. Viram-se porcos cercar durante longas horas os caçadores, batendo com violência os queixos, cavando o chão, mordendo e rasgando a casca da árvore, que tentam derrubar para atingir os seus perseguidores. Nem os tiros repetidos, nem as quedas de muitos companheiros os espantam ou desanimam.