Outra vantagem para o caçador nessa posição elevada é que de cima pode escolher entre muitas a peça mais gorda e abatê-la com facilidade. Ensinados por velha experiência, os caboclos vão esperar em cima a passagem da tropa selvagem. Deixam, então, desfilar o grosso da tropa e reservam as balas para os últimos. "Na frente", dizem eles, "vão os magros; atrás os pesados, por causa da gordura."
Não deixaremos o assunto das caças volumosas sem mencionar as capivaras, enormes roedores anfíbios, os maiores roedores do mundo, dizem os naturalistas, pois que são ratos do tamanho de um grande cão. Em nada perigosas, são, entretanto, muito prejudiciais pelos estragos que costumam causar às plantações de arroz nas vazantes abertas nas proximidades dos rios e lagos. Apesar de seu sabor desagradável, a carne é aproveitada, por ser, na opinião popular, remédio eficaz contra a sífilis, a morfeia e todas as impurezas do sangue. As capivaras andam em rebanhos e os nossos pobres roceiros não dão conta de exterminá-las, na sua luta cotidiana para impedir os estragos e prejuízos por elas causadas.
Mencionemos, enfim, outro anfíbio, a lontra, representada por dois tipos diferentes apenas pelo tamanho: a lontra e a ariranha. Vivem numerosas em qualquer rio e ribeirão e gostam de aparecer, a certa distância dos barcos, nadando e mergulhando ora pela frente ora por detrás, erguendo-se, de vez em quando, acima das ondas, como para melhor observar e provocar os viajantes, com seus gritos chorosos, muito semelhantes a vagidos de crianças. É sempre difícil a caçada da lontra. Baleada dentro da água, ela afunda e morre em poços onde é custoso alcançá-la.
O meio mais seguro de capturá-la consiste em surpreendê-la quando sai do rio à procura da toca onde se recolhe, depois de ter apanhado algum peixe, seu único alimento. Os ribeirinhos não desanimam, nessa peleja, apesar das dificuldades.
Os magníficos despojos aveludados das lontras encontram compradores até nos mais remotos sertões.
Com essas peles os sertanejos caprichosos forram e enfeitam selins, alforjes e malinhas de mão, revestem com certa elegância os toscos móveis de suas choupanas e confeccionam chinelas e outros pequenos objetos de uso doméstico.