Os sertanejos que eu conheci

de cores, desde o minúsculo periquito-do-mamoeiro, da grossura de um pardal, até às volumosas e barulhentas araras, incluindo os papagaios, as maritacas, as jandaias, as "estrelas", etc. Com exceção das araras, todos vivem em bandos de centenas de casais e todos se tornam terríveis pragas para as plantações, sobretudo os periquitos-verdes que dizimam arrozais. Tornaremos a falar destes últimos quando tratarmos da lavoura.

Os papagaios oferecem particular interesse ao nosso povo que procura os seus filhotes para criá-los em casa. Não há família que não tenha o seu "louro", o seu "cravo", o seu "alecrim", cujos cantos e palavras, repetidas com estupenda perfeição, constituem agradável passatempo para as crianças.

As araras dificilmente aprendem tais arremedos. Os sertanejos criam-nas pela beleza de sua plumagem, embora possam causar estragos aos móveis e utensílios com o seu bico formidável. Certos moradores mais isolados, seguindo o costume dos índios, utilizam-nas como cães vigilantes. Com efeito, as araras — como outrora faziam os gansos do Capitólio — avisam com gritos ensurdecedores a aproximação de estranhos.

Existem araras inteiramente azuis, pretas ou vermelhas. As araras chamadas "canindés", as mais comuns, são de cor azul e amarela. As araras vermelhas, cor de fogo, são muito raras e tornam-se objeto de valioso negócio entre sertanejos e índios. Um carajá não hesitará em ceder a sua melhor ubá a fim de adquirir a tão cobiçada arara vermelha, cujas penas constituem o mais belo adorno de seus capacetes e cintos nas noites luarentas em que dançam o aruanã.

Que dizer, agora, das aves, ainda mais numerosas, que vivem nas beiradas dos rios e dos ribeirões, ao longo das praias e em torno das lagoas e dos pântanos? Impossível lembrar-nos por completo da incrível variedade de tamanhos, aspectos, cores e cantos das aves aquáticas. Por isso, limitamo-nos a mencionar aquelas que, de momento, se apresentam à nossa memória. Em seguida, diremos, ao menos de algumas, certas particularidades.

Temos o jaburu-moleque, o jaburu-de-bando, o manguari, a inhuma, o pato, o paturi, o mergulhão, o marrecão, a marrequinha, o socó-boi, o colhereiro, a garça, a gaivota, a curicaca, o cigano, a sararaca, o carcará, o martim-pescador, o pavãozinho, a galinha-d'água, a jaçanã, o jacurutu...

O pato selvagem, maior do que o pato doméstico, é considerado pelos ribeirinhos a melhor das caças, pela fineza e sabor de sua carne. Multiplica-se de modo espantoso. Em certos períodos do ano, sobretudo logo depois das primeiras chuvas,

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