Os sertanejos que eu conheci

podem-se ver centenas desses palmípedes batendo asas, num intenso alvoroço, ao longo das praias úmidas. Feliz do caçador que os encontra! Apontando a arma para o meio do bando, consegue magníficos resultados. Mais de uma vez tivemos essa fortuna e matamos aves de mais de cinco quilos.

O marrecão, também chamado "marreca", é muito parecido com o pato, embora inferior em tamanho. Vive sempre nas beiradas de rios e de lagos e alimenta-se de detritos vegetais e animais, o que torna a sua carne inferior à do pato, que se nutre exclusivamente de vegetais. Quando ferido pelo caçador, em vez de procurar, como o pato, algum esconderijo em terra firme, dirige-se para a água e com seus repetidos mergulhos, ora para um lado, ora para outro, torna muito difícil a sua captura.

Alguns viajantes de passagem pelo sertão queixam-se do mau gosto da carne do marrecão. Depois de depenada a ave, deve-se arrancar-lhe a pele antes de cozinhá-la. A carne torna-se macia e perde o gosto desagradável que faz subestimar essa caça de valor.

O jaburu-moleque é a maior das aves aquáticas. Atinge mais de um metro de altura e o seu aspecto é realmente pitoresco quando passeia sempre sozinho nas praias, dando-lhe um ar desajeitado o impressionante comprimento das pernas e do bico. O jaburu-de-bando é menor e gracioso; não vive solitário, mas em bandos numerosos que alvejam nas praias ou nas árvores vizinhas. Nem um nem outro tem valor culinário ou comercial.

As garças são intensamente procuradas por causa da linda plumagem branca como a neve e do topete de penas finíssimas de sua cabeça. Enfeites apreciados para chapéus de senhoras e comprados por bom preço mesmo nos lugares ermos do Araguaia.

Os colhereiros resplandecem nas praias alvíssimas dos grandes rios e em torno dos lagos com a sua plumagem cor-de-rosa que, em certos períodos, se torna vermelho flamejante. As penas rutilantes são por isso muito apreciadas pelos índios. Os carajás e os javaés enfeitam com elas capacetes, cintos e outros apetrechos de danças, misturando-as com as penas verdes, amarelas e azuis, de papagaios e araras. Quanto custa, porém, alcançar um colhereiro! Muito desconfiado, apenas percebe o menor movimento, embora longínquo, do caçador, levanta voo e esconde-se nas profundezas da mata inacessível.

Enfim, duas aves merecem especial menção pela originalidade de seus cantos que suscitam indizível melancolia nos viajantes que os escutam nas solidões amazônicas. A primeira é a inhuma

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