(ou "inhaúma", como dizem os nossos sertanejos), ave de grande porte, que vagueia solitária pelas praias e lança, de vez em quando, um gemido parecido com doloroso soluço a ecoar pela imensidão silenciosa. A outra é o pequeno jacurutu, raras vezes visível durante o dia. A partir da meia-noite ele envia um como misterioso apelo, que o sertanejo traduz pela onomatopeia "jacurutu-curu", apelo correspondido, instantes depois, por grito idêntico, resposta de um companheiro distante.
Ao consignar estas informações, recordamos, com saudade, as noites cheias de poesia passadas nas praias, sob o céu estrelado e límpido do verão. Estendido na areia, ou deitado na rede suspensa entre duas forquilhas, o viajante adormece e acorda aos sons variados que lhe chegam da floresta e do rio. São gaivotas que cortam os ares piando, mutuns a soltar gemidos, jacurutus com o seu misterioso dialogar, inhumas a soluçar, ciganas a debaterem-se nos ramos dos saranzais, enquanto na imensa largura do rio passam os botos resfolegando e pulam por cima da água gigantescas piratingas, ao passo que, bem distantes, se percebem, vindos do fundo das matas, os rugidos da onça e os latidos do guará...
Como é maravilhoso o sertão!
As informações precedentes, embora não ofereçam uma descrição completa da fauna sertaneja, bastam para dar uma ideia das riquezas naturais daquelas regiões. Revelam, em todo caso, a abundância de recursos de que dispõem os sertanejos para a sua alimentação. Por mais desprovidos que sejam, do ponto de vista econômico, a caça há de fornecer-lhes sempre os meios suficientes para sustentarem suas famílias.
É verdade que armas e munições são geralmente escassas nos remotos sertões, mas os nossos caçadores sabem compensar essa deficiência pelo emprego de várias táticas ensinadas por experiência secular e pelas tradições indígenas.
Com efeito, os sertanejos que vivem em frequentes contatos com os índios têm muitas ocasiões de observar como estes caçam, apesar de não disporem de armas de fogo. O cacete, o arco com as flechas, eis com que o silvícola persegue o veado ou o caititu pelos campos e matos, alcança o mutum ou a guariba no alto das árvores, ataca e vence a anta e a onça. Graças à sua esperteza e habilidade, o caboclo também consegue excelentes resultados com os seguintes meios: a armadilha, o fojo, o alçapão e a espera.