INTRODUÇÃO
SERTÕES BRASILEIROS NO SÉCULO XX
APRESENTAMOS, há pouco tempo, ao público brasileiro, um trabalho sob o título: Entre Sertanejos e Índios do Norte. Não era livro nascido de pura imaginação, nem tampouco simples apanhado de descrições mais ou menos romanescas, colhidas em obras escritas com pouca exatidão e limitada consciência. Em torno da figura do bispo missionário Dom Domingos Carrérot, intrépido pioneiro dos sertões do Norte, havíamos reunido documentos sinceros, frutos de recordações pessoais e de numerosas observações feitas e consignadas com cuidado, nos longos anos por nós vividos no interior do Brasil.
Esse trabalho de muitas semanas e meses foi para nós uma prolongada volta por regiões bem conhecidas. E nessa volta tantas saudades se avivaram em nós, que não resistimos ao desejo de empreender outra excursão mais demorada. Convidamos os leitores do nosso primeiro livro a acompanhar-nos, de novo, através daqueles longínquos recantos, prometendo-lhes informações mais abundantes e valiosas.
Outro propósito, e este é o principal, impeliu-nos a redigir estas notas.
Baseado em provas múltiplas e convincentes, pretendemos afirmar, por mais paradoxal que pareça, o fato da continuação, ou se quiserem, da sobrevivência do sertão de outrora, em pleno século XX. A muitos brasileiros, pouco ou nada cientes dos segredos do seu hinterland, tencionamos revelar que, em nossa época de vertiginosos progressos e contínuas descobertas, não poucos patrícios seus se acham segregados do mundo civilizado, em remotas paragens onde vivem e pelejam, não apenas resignados, mas ainda corajosos e alegres, embora não disponham de uma estrada de rodagem, do simples lampião de querosene, ou da mais lenta linha de correio.
A quem nos perguntar de onde nos veio esse propósito, responderemos: foi da leitura de tantas obras escritas por viajantes dos tempos passados, que do interior do Brasil, trilhado por eles à custa de inauditas fadigas quiseram tudo conhecer e