Os sertanejos que eu conheci

que os nossos avoengos povoaram. E eis por que ousamos convidar os que se interessarem pelo passado a percorrê-lo conosco, numa romaria patriótica, através destas páginas.

Fugindo a especulações filosóficas e teorias científicas, mantendo-nos no modesto terreno das realidades concretas, tentaremos mostrar os nossos sertanejos sob seus múltiplos aspectos: físico, moral, social, familiar, religioso, político e artístico. Falaremos de seus modos de vida e trabalho, de seus diversos sistemas de caça e pesca, de suas crenças e crendices, como também de seus males e vícios. Assunto vastíssimo, na verdade, capaz de ultrapassar os nossos limitados recursos, mas que prometemos tratar com sinceridade e a mais escrupulosa exatidão.

Exatidão e sinceridade; e por essas duas palavras apontamos mais uma intenção nossa no elaborar essas notas: queremos restabelecer a verdade, ofendida amiúde por pretensos sertanistas. Muitos deles escreveram sobre os nossos sertanejos, nem todos, porém, souberam fazê-lo com justiça e sentimo-nos obrigados a declarar, aqui, que viajantes estrangeiros se mostraram, em geral mais leais e compreensivos para com o nosso povo do interior do que muitos brasileiros.

Europeus que vieram ao Brasil como etnólogos, geógrafos ou naturalistas, penetraram nos sertões dispostos de antemão a suportar, durante meses e anos, a separação da família, da pátria, das comodidades e da civilização. Não recuavam perante privações e fadigas, obstáculos e perigos de toda sorte. Assim puderam observar com método, perguntar, anotar, corrigir e catalogar. Tudo os interessava, sabiam procurar e recolher elementos de informações, ajuntar riquezas para futuras publicações. Souberam evitar o perigo de concluir sob o impulso de primeiras impressões e de basear-se em simples probabilidades, indagações apressadas, ou respostas ambíguas e talvez malévolas.

Acrescentamos ainda a seu favor que, pelas suas boas maneiras em tratar os sertanejos, pelo seu cuidado em evitar qualquer desdém ou aspereza, deixaram em geral e continuam deixando em seus itinerários, as mais simpáticas recordações. Quem nos dera poder aplicar tais elogios a todos os sertanistas brasileiros! Raros, infelizmente, os sertanistas como Couto de Magalhães, Rondon, ou Hermano Ribeiro! Muitos têm sido fecundos em livros, ricos talvez de imaginação, pobres, porém, de verdades.

Salvo honrosas exceções, vieram aos nossos recantos bravios com a evidente preocupação de atravessá-los à pressa, a fim de abreviar o mais possível as inevitáveis privações. Olharam, portanto, e escutaram sem paciência, anotaram respostas inexatas

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