aliás àqueles que ocorriam em outras áreas do litoral brasileiro na época. A fase representada pela fixação do quase lendário Bacharel, náufrago ou degredado, parece que já na primeira década do século XVI, e que com mais alguns portugueses e espanhóis (Mestre Cosme, Francisco Chaves, Antônio Rodrigues, Duarte Perez, Gonçalo da Costa e João Ramalho) constituiu um esboço de povoamento se estendendo provavelmente da Ilha de Santo Amaro até Cananeia, e com seu ponto de condensação maior em São Vicente, povoação ou porto que já figurava em um mapa de 1502 — embora alguns pesquisadores fixem a época de sua fundação efetiva entre os anos de 1510 e 1516.(3) Nota do Autor
É evidente que as relações desses primeiros habitantes brancos do litoral com os indígenas — tamoios ao Norte, tupiniquins ou guaianás no Centro, mais ao Sul carijós — não tardaram a propiciar o conhecimento do planalto da terra vicentina pelos europeus. E foi com certeza João Ramalho, arranchado no porto do Perequê — que marcava o começo da trilha dos tupiniquins, no litoral — o primeiro homem branco a percorrer a vereda escarpada que se insinuava entre as brenhas espessas da floresta serrana e a surgir nos campos que seriam chamados de Piratininga. Eram vastos campos cobertos de vegetação rasteira, com pequenas árvores esparsas ou agrupadas e alguns capões de mato. E com um clima bem diverso (lembrando os ares temperados do Reino) daquele da baixada marinha.
O meio de vida de Ramalho (de certa forma o mais importante desses pioneiros) parece que consistia em traficar com peças do gentio, aproveitando-se da circunstância de haver se ligado, por laços de parentesco, com alguns chefes nativos da região, pois o sistema familiar vigorante entre os tupis, favorecendo a formação de parentela numerosa, sob a forma de família-grande, dava possibilidades de orientação ou de mando aos brancos que se unissem a bugras pelo casamento.(4) Nota do Autor
Pelo menos é o que indica o tipo de povoamento da terra vicentina nesse tempo, que pode ser mais ou menos desvendado pelo depoimento de Antônio Ponce, da armada de Caboto: os brancos utilizando os bugres como intermediários que deveriam percorrer o litoral e o planalto para aprisionar inimigos (pois os guaianás ou tupiniquins viviam em guerra com seus vizinhos do Norte — os tamoios — e do Sul — os carijós), que eram conduzidos a São Vicente.(5) Nota do Autor E abastecendo-se de produtos europeus que recebiam de navios em trânsito, em troca de escravos, mas também de mantimentos, de madeiras e de outros produtos indígenas, embora faltasse aqui o pau-de-tinta, que alimentava