ROTEIRO
ESTA VIAGEM ao país dos paulistas (assim era chamada, nos primeiros tempos coloniais, a terra de São Vicente ou de São Paulo), pretende o Autor que seja feita dentro de um esquema de que se excluam os propósitos antecipados de louvação ou de crítica. É necessário que se ponham de lado — no momento do embarque e durante a jornada — tanto a afirmativa, por exemplo, de que o bandeirante era um sórdido explorador do bugre nativo, como aquela outra, oposta, de que ele pertencia a uma raça de gigantes predestinada a alargar as fronteiras assinaladas em Tordesilhas. Não seria difícil colecionar argumentos (baseados em documentação autêntica) para defender qualquer das duas teses. Mas tudo indica que a viagem poderá ser mais proveitosa se for empreendida, tanto quanto possível, dentro de um clima de isenção, que permita ao observador ir situando as coisas, os homens, as situações, nos limites de um contexto tranquilo.
Não quer isso dizer, nem de longe, que o Autor, ao encetar sua viagem, se coloque na ridícula posição de quem procura fazer tábula rasa de tudo aquilo que escreveram antes os que já percorreram essa área sugestiva do passado brasileiro que é a fase colonial paulista. Pelo contrário. Sobejam as contribuições de alto nível ao conhecimento das mais recônditas veredas (como diria Guimarães Rosa) em que se processaram a formação e a marcha histórica da gente de São Paulo.
O que não impede que seja ainda confusa ou deficiente a imagem que da história remota de São Paulo se tem em nossos dias. Baralham-se frequentemente as suas etapas. Sabe-se, vagamente, que houve brancos pioneiros que vieram viver entre os bugres e que fizeram, de São Vicente, o Porto dos Escravos. Que o cultivo do trigo andou depois povoando de moinhos as beiradas dos rios de serra acima. Que rudes chefes de tropa percorreram os sertões ao longo do Anhembi ou das paragens distantes do Guairá, arrebanhando nativos acorrentados a colares