TEMPO DOS PIONEIROS (1500-1580)
"...me disseram que no campo, 14 ou 15 léguas daqui, entre os índios, estava alguma gente cristã derramada..."
PADRE LEONARDO NUNES
I
QUASE NADA se sabe a respeito dos primeiros tempos e dos primeiros passos da ocupação das terras de São Paulo por europeus. Ou dos traços de que se revestiram os contatos iniciais desses homens — portugueses e espanhóis — com o território do litoral vicentino. Difícil é a identificação de muitos desses aventureiros quinhentistas que cruzavam em veleiros o Atlântico e vinham cumprir seu resto de vida em um trecho estranho e remoto do mundo tropical — de terras que para além das praias eram úmidas e semianfíbias, e se balizavam ao poente pelo perfil da muralha gigantesca que é o rebordo da Serra do Mar. Precária é a própria fixação da época exata em que eles arrumaram, ao longo das enseadas selvagens desta parte do continente, os seus arremedos de povoações.
"Na praia rodeada de índios e feras levantavam os brancos habitações defendidas, como na Europa, por uma torre. Nas circunvizinhanças derrubavam matas, arroteavam lavoura, levantavam moinhos e procuravam entrar em entendimento com o aborígine, que seria o colaborador, como Sexta-Feira foi o de Robinson Crusoé."(1) Nota do Autor O armamento de que dispunham devia provir de trocas feitas com o pessoal das naus clandestinas que arribavam por ali: recebiam decerto arcabuzes e munição, como pagamento de escravos que forneciam, aprisionados na mata próxima ou já prisioneiros de guerra cedidos pelos índios seus amigos.(2) Nota do Autor São Vicente chegou a ser chamado então de Porto dos Escravos.
Esses devem ter sido, a grosso modo, a situação e o jeito do povoamento vicentino em seu arranco inicial — semelhantes