1963 seria um ano de agonia. Iniciara-se com o Referendo, que devolvera a Goulart os poderes do presidencialismo, e daí por diante se desconhecera um período de calma. A própria área governamental, dividida entre os comunistas que dominavam a cúpula sindical, através do Comando Geral dos Trabalhadores (o famoso CGT), e do PUA (Pacto de Unidade e Ação), e elementos moderados, como San Tiago Dantas, apresentara sempre inquietante divergência, que alguns traduziam como o antagonismo entre a "linha chinesa", ortodoxamente revolucionária, e a "linha de Moscou", que preferiria tomar o poder pacificamente. E a tudo isso se somariam o governador Arrais que, em Pernambuco, organizara secretariado marcadamente esquerdista e comunista, e a agitação estudantil promovida pela UNE (União Nacional dos Estudantes) e pela UBES (União Brasileira de Estudantes Secundários).
Durante meses, Goulart comandaria o caos, que, de certo modo, interessava a todas as facções do Governo, inclusive ao próprio Goulart, que, nitidamente, alimentava aspiração continuísta. As greves, ora aqui, ora ali, envolvendo principalmente ferroviários, portuários e petroleiros acabaram frequentes e habituais no país; raro o dia em que não se deflagrava alguma, sob a complacência governamental. Dia a dia tornava-se maior o pânico entre os liberais e conservadores. Incitada por notórios líderes petebistas e comunistas - Osvaldo Pacheco, Pelacani, Riani e tantos outros - a área sindical agitava-se cada vez mais, enquanto os investimentos paravam e os capitais estrangeiros desapareciam. Era o clima ideal para os que jogavam na desgraça do país, que começava a despenhar-se ladeira abaixo.
Em outubro, Goulart pareceu sentir-se suficientemente forte para abandonar a posição dúplice e dúbia, tanto do seu agrado. E, falando em Vitória, onde inaugurava a Usina de Ferro e Aço, investiu, no mais candente estilo "nacionalista", contra os que se opunham à "reforma agrária e às reformas de base": "Não podemos ser subjugados pelos estrangeiros que nos espoliam e pelas forças internas que querem manter intocável um sistema em que grupos reduzidos exploram a maioria do povo." Era o início da vigorosa campanha liderada pela "imprensa sadia" (em contraposição à imprensa "vendida" ou "antinacional") cuja tônica era o antiCongresso e a antiConstituição. Como governar e atender reivindicações populares, se o Congresso negava as "reformas"? E, ao tempo em que se preconizava o fechamento do Congresso, anunciava-se novo plebiscito em favor das reformas - o voto derrubaria a Bastilha.
Também nos campos político e militar não se conhecera a bonança. Neste houvera a assinalar a ascensão do general Assis Brasil à chefia da Casa Militar do Presidente, e a nomeação do general Osvino