O Governo Castelo Branco

Ferreira Alves para dirigir a Petrobras, onde, apesar de já na reserva, se tornou ameaçadora ponta de lança contra o ministro da Guerra. Na política, San Tiago Dantas perdera o Ministério da Fazenda para o conceituado ex-governador de São Paulo, Carvalho Pinto, que não demorou em ver-se sem condições de permanecer. Substitui-o Nei Galvão, figura inexpressiva, da intimidade de Goulart.

Gradativamente, o pânico instalara-se no país. Quantos não pensavam em deixá-lo, ante a perspectiva de uma república popular, ou sindical? Contudo, acalentado e fomentado pelo Governo, o pânico criava o clima para que a permanência de Goulart no poder se tornasse a única solução pacífica. Este parecia sonhar se repetisse 1937.

Seria custoso organizar-se a resistência: durante longo tempo sobreviveria o "espírito de legalidade" das Forças Armadas. Alguns deputados da oposição haviam cogitado do impeachment de Goulart, e Aliomar Baleeiro redigiu a petição, que o advogado Sobral Pinto prontificara-se a subscrever. Escreveu o historiador Skidmore que eles sabiam "não contar com votação suficiente". A verdade é que, havendo Baleeiro submetido o assunto aos generais Ademar de Queirós e Castelo Branco, este considerou a iniciativa inoportuna, pois poderia provocar uma greve geral, que não tinha ainda como enfrentar.

Chegara-se assim aos idos de março. A impressão generalizada era a de que o desfecho se aproximava, e muitos temiam pela sorte das instituições democráticas. Entretanto, quanto mais avultava o perigo mais se ampliavam as resistências nas Forças Armadas, onde antigas correntes revolucionárias, vindas desde 1922, começavam instintivamente a se unir. O general Cordeiro de Farias era há muito, dos mais ativos na conspiração. O general Denis nunca se conformara com os episódios posteriores à renúncia do Presidente Jânio Quadros. Em Minas Gerais, os generais Olímpio Mourão e Carlos Luís Guedes uniam-se numa conspiração com o Governador Magalhães Pinto. E a esses poder-se-iam acrescer, entre outros, os generais Ulhoa Cintra, Bizarria Mamede e Costa e Silva, este o mais antigo dos generais com função no Rio de Janeiro. Também alguns já na reserva, antigos conspiradores, como Nelson de Melo, Ademar de Queirós, e Golberi do Couto e Silva, vinham reunir-se aos camaradas.

Sobre a situação que se esboçava, o general Golberi do Couto e Silva, acatado como um dos intelectuais do Exército, redigira apreciação confidencial, distribuída num círculo restrito. Era uma análise objetiva e pessimista, na qual se acentuava "a evidente irritação do Executivo [Goulart], ainda que mal disfarçada sob o pretexto de lhe ser hostil o ato do Legislativo" que impedira a decretação do estado de sítio. E, ao lado do desprestígio do ministro da Guerra, cuja exoneração era admitida, apontavam-se as preterições dos generais

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