ensaio com o episódio do Sindicato dos Metalúrgicos, onde notórios líderes comunistas, a título de educar os marinheiros, distribuíram fartamente folhetos subversivos. E a preparação de um golpe tornou-se evidente no comício da Central do Brasil, na sexta-feira, 13 de março de 1964, bem como na reunião dos sargentos, no Automóvel Clube, ambos com a presença do Presidente da República.
Ante perspectivas tais, era crescente a reação dos responsáveis pela disciplina e pela hierarquia militar, dentre os quais, pela função e pelo conceito, sobressaía, no Exército, o general Castelo Branco. Sempre fora um legalista, empenhado em manter as Forças Armadas alheias às querelas políticas. Contudo, estava longe de ser um indiferente.
Daí as suas sucessivas posições e iniciativas como Chefe do Estado-Maior do Exército, comissão para a qual, dizia-se, fora nomeado como fórmula de atender a solicitação do governador Arrais, desejoso de desvencilhar-se do inflexível comandante do IV Exército. Era também a maneira de deixá-lo sem comando de tropa, enfraquecido portanto. Simples engano: davam-lhe uma alta tribuna para falar aos camaradas, como escreveu um observador dos acontecimentos: "Castelo Branco lecionava uma matéria transcendental: como salvar o país."(2) Nota do Autor
Havia pouco que, após feliz união de mais de quarenta anos, ele perdera a esposa, D. Argentina Viana Castelo Branco, de família mineira, de acolhedora simpatia, que a beleza e viva inteligência mais ressaltavam. Fora rude o golpe inesperado. Para o compensar, ele se engolfara ainda mais no trabalho. Carta a um amigo: "Houve uma dolorosa e violenta ruptura de uma vida bem vivida, como criatura de Deus e Senhora. Eu fiz força, como ainda faço, para não baquear, e assim procedo por causa de um ideal, a que ela se associou e pelo qual me ajudou a pelejar". Realmente, buscara consolo no trabalho, e aos filhos escrevera pouco depois da viuvez: "O meu trabalho profissional prossegue e pretendo dinamizá-lo. Mas o que sinto é que se foi uma presença espiritual singular, incomparável para mim, cheia de encantamento e dignidade, de delicadeza de sentimentos e de responsabilidade".
Quando o Presidente Goulart comunicou-lhe, em Recife, que o ministro da Guerra Jair Dantas Ribeiro o propusera para chefiar o Estado-Maior do Exército, Castelo Branco escreveu a este "velho companheiro de turma", a quem se considerava "ligado pela estima e por afinidades profissionais": "Estou sinceramente convencido que só motivo de ordem militar e de confiança profissional levaram o