O Governo Castelo Branco

os meios de vencer as intempéries dentro da ordem legal. Numa palavra, institucionalizava-se a Revolução, que, fortalecida pela ampla margem de votos no Congresso e dispondo de legislação adequada, nada tinha que temer. De Castelo escreveu o Jornal do Brasil que a sua intenção de restaurar o Poder Civil, associada à sua atitude moderadora, "nas circunstâncias críticas em que vivia o país", haviam-lhe criado "momentos difíceis e talvez inesperados." Agora, próximo ao termo do mandato, Castelo encontrava motivos para fruir a impressão de que a Revolução, conciliada com a democracia e a ordem legal, iria sobreviver.

Sob o título "Os Mil Dias", o Jornal do Brasil, já ao apagar das luzes, resumiu o Governo Castelo Branco. "Mil dias... Tão cheios e tão breves. Mil dias de grandeza, que revigoraram a autoridade em desagregação, e reergueram o país do caos a que o levara a demagogia irresponsável. Mil dias de trabalho, restabelecendo o crédito no exterior, e repondo o país no caminho do desenvolvimento. Mil dias de austeridade, recompondo a imagem de respeito e dignidade do Chefe do Estado. Mil dias norteados pelo idealismo e bravura do Presidente. O artigo assim sintetizou o contraste entre o passado e o presente: "sombra e luz." Realmente, saíramos da sombra para a luz. De tal modo que os erros, inseparáveis da condição humana, observou o articulista, "empalideceram no confronto com as características que imprimiu [Castelo Branco] no mandato presidencial e com medidas que o redimem de vacilações ocasionais e desacertos circunstanciais." O jornal prosseguia:

"Foi verdadeiramente digno pautar-se o Governo por um padrão que recusou a popularidade fácil através de expedientes que antes agravam a solução dos problemas acumulados. Ficou provado que um governo é merecedor de respeito quando não desce à comercialização da popularidade tecida em acenos demagógicos e complacência para com toda sorte de reivindicações... Pela primeira vez tivemos um governo coerente e consequente: feita a opção no plano econômico-financeiro, de cujos resultados finais não cabe julgar, independentemente das discordâncias técnicas e doutrinárias, é forçoso reconhecer a capacidade em conduzi-la em todas as suas etapas de desdobramento. Nos momentos críticos ele podia ter sucumbido à velha prática de fazer concessões em troca de aplausos. Fora de dúvida, seria tentador aliviar as restrições de créditos e salários, para adquirir o respaldo popular e empresarial."(1) Nota do Autor

A popularidade, entretanto, não tentara o Presidente. Não que a desprezasse, ou não a estimasse. Longe disso, sempre que ela o acariciava,

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