como às vezes ocorreu, principalmente no Nordeste, era visível o agrado com que a acolhia. Recentemente fora a São Paulo, pelo aniversário da cidade, e receberam-no com desusado entusiasmo, que o jornalista Paulo Zingg registrou no Diário de Notícias: "O Presidente da Revolução pôde deixar de lado as escoltas e as medidas de segurança para andar no meio da multidão, apertando mãos e recebendo abraços, e sentir de perto a amizade e o reconhecimento populares."(2) Nota do Autor Começariam a compreendê-lo? Na antevéspera de deixar o Poder, Castelo fruía uma "aura de popularidade." Ele que raramente guardava publicações a seu respeito, anotou no recorte do artigo de Zingg: "Arquivo pessoal." Desejava recordar aqueles aplausos, que não pudera requestar, pois acima de tudo colocara o interesse do país.
A messe não o aproveitaria, pois, quando os frutos chegassem, já os não colheria, recebera legado por demais oneroso para admitir que, no curto lapso de mil dias, pudesse semear e colher. Na realidade, coubera-lhe "uma herança de caos, uma safra de impasses, a travessia de desertos impraticáveis. Melhormente, num misto de ironia e amargura, ele costumava dizer que lhe tocara "um governo de entressafra." Ele sabia quanto valem as entressafras, afanosas e improdutivas. Seria o seu destino no Governo? Conformara-se? Não. Agigantara-se no vencer a fase penosa, ao deixar o chão arado e semeado para a posteridade, tal como desejara, preferindo arcar com o ônus de todos os sacrifícios, em vez de transferi-los em parte para o seu sucessor. 'De fato - escreveria Mário Simonsen - na época colheu-se pouco. Mas, plantou-se muito para o futuro."(3) Nota do Autor O estadista preocupara-se mais com o futuro do que com o presente. Por isso arrostara incompreensões, fizera desafetos, granjeara antipatias, renunciara a aplausos. Mas, como tudo proviera da convicção de servir ao país, ele de nada se arrependia. Se necessário, teria voltado a trilhar o mesmo caminho: para ele não existiria a estrada de Damasco. Na ação do homem de Estado, ele colocara uma nota de grandeza, que lhe brotava naturalmente do caráter, feliz combinação de virtudes e predicados exalçados pela cultura e a educação militar. Parecia desconhecer o mesquinho, que não encontrara como se abrigar no seu espírito.
Era a hora de recolher as velas. Notou Moacir Padilha, editorialista de O Globo, que o Presidente tivera a preocupação de saber o que ele diria à História, e o que a História diria dele. Em resumo, Castelo seria sensível ao julgamento dos pósteros, que, livres das paixões e dos interesses, veriam o Governo como um todo diante da conjuntura e das circunstâncias que o envolveram inexoravelmente.