"É extremamente difícil dizer - escreveu Carlos Castelo Branco - se um presidente da República, em determinadas circunstâncias, agiu exatamente como deveria ou se apenas agiu como podia."(4) Nota do Autor Realmente, havendo ambicionado realizar obra governamental, ingente em qualquer momento, o Presidente enfrentara fatores adversos, sobretudo pelo afã de compatibilizar objetivos contraditórios, como eram a revolução e a ordem legal, a força e a liberdade, a deflação e o desenvolvimento, o desenvolvimento e a estabilidade. Decidira como possível.
Se exata a preocupação de Castelo perante a História, era-lhe oportuno voltar-se para o caminho palmilhado nesses três anos de Governo. Para ele o Poder não fora fácil e suave. Desconhecera a tranquilidade. Precisara enfrentar percalços de toda sorte, desde a incompreensão ou a insatisfação de camaradas até às pressões de grupos habituados aos favores da administração e à crítica dos vencidos pela Revolução. Também contrariara amigos. Raros haviam sido os momentos felizes e despreocupados. Contudo, aquecido pela flama de convicções e de confiança no futuro, os ataques não lhe tinham entibiado o ânimo, e não revelara qualquer arrependimento quanto ao caminho escolhido, que se diria disposto a percorrer novamente, se necessário.
Mas, a cada instante, na política, na economia, nas finanças, vira-se ante o dever de optar. Ele o cumprira desassombradamente. "Ninguém lhe poderia negar que, nesses momentos, sua escolha foi sempre tomada em função do interesse público, sem considerações de ordem pessoal." Por vezes, no entanto, a opção fora difícil, se não dolorosa. Eram as amarguras do poder. Danton Jobim, que teve afetuosas relações com Castelo, não se deixara iludir: "Ao contrário do que muitos pensam - escreveu - Castelo não experimentou jamais a volúpia do poder, pois jamais pôde exercê-lo senão por detrás da máscara de chefe autoritário, que ele usava a contragosto."(5) Nota do Autor A máscara protegia-o.
Na verdade, começara a soar a hora da história. Castelo devia voltar-se agora para o caminho percorrido. Tudo fora difícil. "Não há fases fáceis em uma Revolução", dissera aos jornalistas. "Todas elas são difíceis, desde o desencadeamento até a institucionalização."
Contudo, procurara "resolver problemas em lugar de os postergar", afirmou ao inaugurar a Companhia Siderúrgica Paulista, que retirara do caos: "A Revolução pode orgulhar-se da obra que realizou para reerguer o país." E continuara com ênfase: "Como é da condição