O Governo Castelo Branco

humana, nossas realizações são menores que os nossos desejos, mas o nosso esforço não ficou abaixo do nosso dever."

O esforço fora-lhe hercúleo, mas os resultados mostravam-se compensadores. Em outubro, num início de prestação de contas ao país, ele esboçara amplo panorama do que fizera enfrentando a impopularidade:

"O primeiro esforço foi de saneamento financeiro. O país chegara a completa insolvência cambial. O déficit potencial do orçamento superava em 20% a receita prevista. A capacidade de investir na infraestrutura de energia e transporte fora destruída pela demagogia de tarifas baixas.

Julguei de meu dever, em benefício das gerações futuras, planejar nosso desenvolvimento sobre bases mais sólidas, a fim de que ele fosse mais estável. Por isso busquei reconstruir o crédito externo do país, acumulando reservas cambiais que nos possibilitassem negociar créditos com dignidade, em vez de obtê-los por chantagem política. Por isso também me apliquei a reconstruir o crédito do Tesouro, através das Obrigações Reajustáveis, cujo primeiro e pontual resgate foi iniciado há poucos dias, para que no futuro grande parcela dos investimentos possa ser financiada voluntariamente pela poupança pública, sem recurso às emissões de papel-moeda ou excessiva tributação. Por isso enfrentei a decisão de descongelar preços demagogicamente contidos, que solapavam nossa capacidade de investir. Os combustíveis foram reajustados para dar recursos à Petrobras e às rodovias. As tarifas de energia elétrica e telefone foram descongeladas para permitir investimentos nas redes de distribuição de energia ameaçadas de colapso, e no sistema telefônico, vergonhosamente precários. Reajustaram-se aluguéis e foi adotada a correção monetária a fim de reativar investimentos na construção civil e pôr termo paulatinamente à crise habitacional. Gradualmente liberaram-se os preços dos produtos agrícolas, ofertando-se ao agricultor, a partir da próxima safra, a opção de vender no mercado interno ou exportar, buscando o mais remunerador."

As fundações suportariam o desenvolvimento de um país que reencontrava o seu caminho. Não havia como omitir as "reformas de base", entre as quais a agrária, a habitacional, a tributária, a criação do Banco Central, e a do mercado de capitais. Castelo parecia satisfeito com a perspectiva que se divisava no horizonte. Confiante na posteridade, dissera sem rodeios: "Desapoiado de propaganda dispendiosa e personalista, e por isso mesmo às vezes subestimado, o nosso esforço de desenvolvimento ficou à altura dos objetivos revolucionários. E assim será julgado pela História." Castelo conscientemente estava certo de ter alguma coisa que dizer à História.

O Governo Castelo Branco - Página 545 - Thumb Visualização
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