Na medida em que o fim se aproximava, deixou-se de falar nele. Mas ninguém poderia pensar noutra coisa. Haviam sido três anos de agradável convivência, cada qual concorrendo com um quinhão, para o soerguimento do país, e ajuda ao Presidente. Ad majorem Dei gloriam... Eram os Mil Dias que se encerravam, e cada qual devia encontrar o seu novo caminho, a começar pelo Presidente. Ele continuava vigoroso, saudável. O médico da Presidência, o doutor Mourão, que lhe conquistara a amizade e a confiança, não se cansava de falar da perfeita saúde do Presidente. Era um organismo para longa vida.
Que faria depois da Presidência? Após árduo trabalho ininterrupto, no qual não conhecera domingos ou feriados, a inatividade seria o vácuo. Algumas vezes tratei-lhe do futuro. Apesar dos convites para visitar países estrangeiros, o Presidente mostrava-se indeciso. Talvez não tivesse tido vagar para pensar no próprio destino. Entretanto, de quando em quando deixava escapar vivo desejo de retornar aos campos de batalha da Itália. Iria rever na paz o que conhecera no fragor dos combates. Teórico da arte militar, certamente não esqueceria Clausewitz: "Mais do que em qualquer outro domínio, é necessário que uma inteligência sutil e penetrante saiba aí [na guerra] discernir e avaliar instintivamente a verdade." Na guerra, Castelo crescera no conceito dos superiores. De outras feitas confessava a aspiração de escrever sobre a estratégia, que o levava naturalmente a falar do Duque de Caxias. Sonhos, possivelmente. O certo é que, havendo adquirido pequeno apartamento em Ipanema, Castelo preparava-se para viver como cidadão comum, temeroso de que os acontecimentos pudessem envolvê-lo novamente. Pretendia não criar qualquer embaraço ou constrangimento a Costa e Silva. Retornaria ao lazer das horas de música. E, sem a distração de trabalho trepidante, ficaria mais só com a sua tristeza. "Era sempre triste, desde a morte da mulher", diria o seu cunhado Niso Viana.
Geisel, apesar da insistência do Presidente, que teria preferido vê-lo em altos postos militares, servindo ao Exército, insistia em acreditar terminada a sua carreira. Seria mais uma Revolução perdida?... 30... 45... 54... 61... Roberto Campos, o "bode expiatório" do ministério, optara pela iniciativa privada, para a qual também iriam Tibau e Ademar de Queirós. Outros voltariam às atividades anteriores. E, se quase todos davam a impressão de recrutas, cujo engajamento terminava, não havia exceção quanto ao orgulho de haverem servido ao Governo, na fase inicial da Revolução. Navarro de Brito, incumbido pelos colegas da Presidência de apresentar as despedidas, bem traduzira esses sentimentos: "No convívio diário deste Gabinete, testemunhando a firmeza honrada e corajosa das suas decisões, assistindo ao desassombro da sua coerência, compartilhando