O Governo Castelo Branco

tensões afrontadas pelo seu caráter de ferro, aprendemos a admirá-lo e até a confundi-lo com o próprio interesse nacional."

Não somente os que haviam servido ao Governo, nos postos mais diversos, queriam levar ao Presidente testemunho de admiração ou reconhecimento. Em decisão inédita, pois jamais ocorrera no Brasil, o Corpo Diplomático resolveu oferecer um banquete a Castelo. Era excepcional homenagem prestada a uma figura excepcional. Dela tivera iniciativa o Núncio Apostólico, Dom Sebastião Baggio. Acolhedor, culto, sutil, modesto na aparência, mas, no fundo, orgulhoso da sua Igreja, Dom Baggio, a pele rosada e fina, o rosto nédio, parecia nascido para a diplomacia da Santa Sé a que servira em outros postos. Nele, o diálogo era ágil, ameno, tendo contribuído para que, em meio das pequenas tormentas que sacudiram as relações da Revolução com a Igreja, fossem frequentes e frutuosos os entendimentos com o Presidente, que as contingências não faziam perder o encanto pelos homens de inteligência. Mas além dessa circunstância, ambos pareciam conscientes da conveniência de conservar-se aberta essa porta, que impediria elevar-se a temperatura excessivamente. Era o refrigério, tão útil em meio dos inesperados e indesejados incidentes. E Castelo nunca se esquecera de transmitir ao sutil embaixador de Sua Santidade a palavra própria no momento adequado. O tempo parece ter feito desabrochar recíproca admiração.

Dom Baggio fez a saudação em nome dos Chefes de Missão do Corpo Diplomático. Era o reconhecimento pela permanente cortesia, a polida atenção com que o Presidente, cujo mandato terminava, os havia cumulado. O orador lembrou o "caráter esquivo e sóbrio" de Castelo, "protagonista - acentuou - do incisivo ciclo quase trienal que está para fechar-se, passando da agitação crônica quotidiana às mais serenas páginas da história." Também não se esquecera de evocar Tácito: "Principes mortales, respublica aeterna." Seria a lembrança de que tudo é passageiro na terra? Castelo, agradecido, ressaltou a "calorosa eloquência", que iluminara a festa, e, num discurso medido, despido de arroubos, fez o elogio da Paz, "bem inestimável, já que a guerra, e até mesmo a vitória, a nenhum povo poderia salvaguardar." Também ele, após três anos sem descanso, devia almejar a paz, para voltar aos seus livros. De quando em quando, Castelo acenava novamente com a grata possibilidade de escrever algo sobre a estratégia.

A iminência de deixar o Governo não privou Castelo do gosto das reformas. Faltava-lhe regulamentar a integração dos trabalhadores na vida das empresas e a participação nos lucros, conforme estabelecido na Constituição. Aliás, já a de 1946 previra o assunto, que permaneceu letra morta, e vinte anos passaram sem que a lei desse vida ao dispositivo que a nova Constituição voltara a adotar. Castelo imaginou

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