O Governo Castelo Branco

excelências do regime democrático e dos sistemas fundados na ordem jurídica.

Algum tempo depois, Bilac Pinto e Aliomar Baleeiro, em companhia do general Ademar de Queirós, que obtivera o encontro, visitaram Castelo. Falou-se da "guerra revolucionária", que dominava as apreensões de Bilac, buscando-se um prognóstico, e, infenso a qualquer ditadura, Castelo admitiu a possibilidade de Goulart fletir para a direita, a fim de ganhar o poder ilimitado e incontrastável, que desejava. Sinal de estar atento aos perigos.

Certa feita, à margem de um trecho, no qual o autor de A Crise do Poder no Brasil afirmava haver sido "o Estado Novo imposição de nossa trajetória econômica", Castelo colocou esta observação: "Mas, haveria necessidade de uma ditadura?"(11) Nota do Autor A interrogação é expressiva. Contudo, para despertar os que ainda não viam a ameaça, a primeira coisa seria um diagnóstico da situação do país. Se o Ministro da Guerra se reservara a faculdade de "ouvir ou não" o Alto Comando, por certo não poderia negar ao Chefe do Estado-Maior o direito de analisar e comentar os acontecimentos político-militares. Foi o que fez o general Castelo Branco, que punha assim uma pedra no sapato do ministro.

Outubro caminhava para o fim, quando concluiu o documento que denominou "Situação político-militar (Exame e sugestões)". Remeteu-o então ao Ministro. Capeava-o pequena carta:

"Meu caro Jair. Eu volto a lhe falar sobre a situação político-militar. E o faço na convicção de que assim sou um leal colaborador seu e de que você não me toma por impertinente, nem por exorbitante.

O assunto é grande, por isso só tem cabimento se tratado por escrito, o que permitirá você dele se ocupar com mais vagar.

Tenho a impressão de que atravessamos dias calmos. Pode ser uma boa e prolongada fase, mas também constitua apenas uma trégua entre duas crises. Aproveito, então, a ocasião para lhe submeter o papel "Situação político-militar (Exame e sugestões)".

O meu desejo é que o Exército, sob o seu comando, entre, profissional e democraticamente, em forma e que marche numa cadência bem militar. Você está no ministério apenas há quatro meses. Há muita gente querendo sinceramente ajudá-lo, sem segunda intenção ou manobra de posições. É tocar para diante."(12) Nota do Autor

A carta atenuava os objetivos do documento. Este, minucioso, lúcido, grave, destinava-se a informar a cúpula do Exército, uma vez que "acontecimentos de natureza militar, com implicações políticas,

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