Escravidão Negra em São Paulo

Um estudo das tensões provocadas pelo escravismo no século XIX

em critérios cliométricos com que Robert William Fogel e Stanley L. Engerman procuraram em 1974 submeter a completa revisão o estudo da economia do trabalho do escravo na América do Norte nos dois volumes de um livro que vem sendo dos mais controvertidos da historiografia contemporânea.

Para alguns desses autores, a figura do "Sambo" seria o estereótipo forjado para explicar o tratamento ora paternalista, ora áspero a que são sujeitos os cativos. Por isso cuidou-se de ver no escravo uma eterna criança, com qualidades e vícios próprios de crianças e que não se pode deixar de querer corrigir com os castigos convenientes. Castigá-los, pois, como se hão de castigar meninos ou também bichos, até bichos de estimação, é dever indeclinável de quantos os tenham aos seus cuidados. Não pensava diversamente o autor de um tratado seiscentista da economia cristã dos senhores de engenho no Brasil. Nesse tratado, o Padre Jorge Benci, da Companhia de Jesus, afirma peremptoriamente que de vara e de castigo mesmo é que precisam os negros, assim como o ginete precisa de espora e o jumento de freio, contanto que usados bondosamente. Para Elkins, que adere de bom grado à tese que chegou a encontrar larga aceitação entre os estudiosos de seu país, depois da tradução de obras de Gilberto Freyre e da ampla repercussão de um pequeno livro do professor Frank Tannenbaum, de Columbia, sobre o negro como "escravo e cidadão", o tratamento dado ao negro nas plantações norte-americanas seria mais desumano do que o recebido pelos escravos nos engenhos do Brasil. De modo que a pretensa humildade, a irresponsabilidade, a fidelidade, a infantilidade, tudo quanto se resume no "Sambo" constituem no seu entender peculiaridades norte-americanas inexistentes em outros países e que explicam — justificam? — o tipo de tratamento a que o escravo era sujeito nos Estados Unidos. Para dar mais força a esse argumento chega a afirmar, e frisa muito esse ponto, que esses estereótipos não existiram na América Latina, particularmente no Brasil, onde eles seriam tratados com mais humanidade, e acrescenta que em vão eles seriam procurados na literatura desses países. De tais afirmativas só se pode concluir que Elkins mal conhece, ou de todo desconhece pelo menos a literatura brasileira, nos diferentes sentidos que possa ter a palavra "literatura".

Como contrapartida do "mito do escravo submisso", que seria o nosso "Sambo", não deixa a Professora Reis de Queiroz de denunciar outro mito, o do "senhor benévolo". É preciso notar, em ambos os casos, que sua contribuição se distingue menos pela originalidade como pela riqueza admirável de material coligido numa pesquisa direta nas fontes, sobretudo fontes manuscritas, e que a levou independentemente a conclusões comparáveis às de outros estudiosos e não apenas no Brasil. A abundância de dados por ela coligidos e que dão suporte a tais conclusões é tanto mais notável quanto se referem a uma região, a São Paulo, em que a escravidão e o escravismo não deixaram

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