Oferece-se agora oportunidade de prestar mais um benefício à gloriosa memória do nosso muito amado Carlos Gomes, demonstrando a inconveniência de colocar sua estátua no Largo da Carioca e a superioridade do local, onde esteve o Teatro Lírico Provisório. Efetivamente o Largo da Carioca não tem condições estéticas para receber um monumento; é irregular, sem perspectiva, sem fundo, incapaz de ser embelezado e ajardinado pela acumulação de veículos de toda a sorte que por ele transitam.
Só recorda o fato de ter Carlos Gomes aí residido em 1870, no primeiro andar do sobrado da esquina da Rua Sete de Setembro; mas para recordar esse fato bastará uma placa de bronze com a inscrição comemorativa. No local, onde se erguia o Provisório, todas as condições estéticas estão belamente satisfeitas, e são inúmeras as recordações dos triunfos iniciais de Carlos Gomes e também da história artística e musical do Rio de Janeiro.
Foi aí que ele foi coroado Maestrino a 4 de Setembro de 1871, pela auspiciosa estreia da Noite do Castelo, seguida pela Joana de Flandres, em 10 de Novembro de 1863, e afinal reconhecido Maestro na entusiástica exibição do Guarani.
A mocidade atual não tem ideia alguma do "Provisório", que no entanto foi, de 1852 a 1872, o teatro onde se exibiam os maiores talentos que visitaram o Rio de Janeiro; muitos de celebridade universal como Adelaide Ristori, Ernesto Rossi, Thalberg e Gottschalk; Lagrange, Tamberlick, etc, etc.
A estátua de Carlos Gomes, elevando-se nesse local, recordará às gerações vindouras o berço de sua glória, e, ao mesmo tempo servirá para o reconhecimento da situação do Teatro Lírico Provisório; edifício que só durou 20 anos, mas, incontestavelmente de perpétua memória para a história artística do Brasil.
Imploro ao Bom Deus...
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17 de Janeiro de 1897.
Meu caro Santinhos.
Muito bem recebida a sua afetuosa de 22 de Dezembro, escrita com a devida precedência para aqui chegar nas imediações do meu 13 de Janeiro. — Também não me passou despercebido o seu 8 de Dezembro.
Li com a mais grata emoção todo o tópico referente ao nosso prezado amigo Charles Neate. Muito bem merecida a sua eleição para sócio honorário do Clube de Engenharia, modesta prova da gratidão pelo muito que há trabalhado pelo Brasil e pelos Brasileiros.