das presas; todo ser vivo lança-se em fuga desabalada pela estepe.
Só o beduíno contempla, satisfeito, o incêndio, porque o prado está limpo.
Também numa determinada fase do ano o gaúcho lança fogo aos banhadais e aos campos rasos. Enquanto as labaredas lambem as touceiras mais altas, fogem os reptis coleando por entre as cinzas: cobras de malhados multicores, verdes salamandras, grandes batráquios pardos e negros e, pelo ar, em revoadas heroicas, batendo azas sobre os ninhos emplumados, os quero-queros enchem os céus de clamores desesperados.
Ao cair da tarde há um friso de fogo baixo nas coxilhas. De longe o gaúcho contempla, satisfeito como o beduíno, as suaves ondulações de seus campos, bordadas de cinzas negras, dormindo na promessa das futuras vegetações.
O beduíno é o dono de seu deserto. Ao gaúcho, não ficou o domínio comum de suas planuras, porque os campos que lhe pertenceram, livres como o deserto, foram, depois, retalhados pelos valos primitivos — mutilação egoísta da terra pelo homem.
Mas o gaúcho também teve — como o beduíno — o mesmo orgulho da solidão e o mesmo desprezo à agricultura, na altivez indomável do cavaleiro. Amou