Gaúchos e beduínos

A origem étnica e a formação social do Rio Grande do Sul

o mar ou as estepes da Mongólia, sacudidas pelos atropelos dos tártaros turbulentos.

O gaúcho não desertou a terra à procura da vida instável dos paupérrimos subúrbios, porque fosse indolente. Não desertou — baniram-no os donos dos latifúndios. Desterraram-no, como elemento de sobra e precária utilidade. No entanto, ninguém como ele amou tão profundamente o pequeno tracto em que nasceu — o pago de seu primeiro sonho e de suas primeiras cantigas.

Respeitemo-lo na terra que foi sua. Assim como os conquistadores de todas as épocas respeitaram aqueles mozabitas na sua gleba, onde amam com ternura as suas palmeiras e as suas abelhas. Deixemos o gaúcho, como os árabes do Mozabe — procurando realizar a parábola de sua fartura — com o faz que é a nossa enxada e o mirá que é o nosso arado.

O beduíno da estepe — ao pé do seu cavalo — é uma figura escultórica. Livre. Alto e magro, macilento e ossudo, comendo sempre alguma cousa de menos. Nariz aquilino, distintivo dos homens-águias. Orelhas grandes, bem coladas ao crânio. Testa franzida e proeminente, encimando olhos de caçador. Boca pequena de lábios severos. Conserva todos os traços da coragem, da prudência, da altivez e da generosidade dos homens taciturnos sempre próximos do destino.(142) Nota do Autor

Toussaint cantou-o, nesta atitude de vigilância e defesa:

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