Ingleses no Brasil

Aspectos da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Brasil

haver imposto (imposto talvez apenas por simbolizar a força protetora) os tratados de 1810 — o de comércio e navegação e o de amizade e aliança.

Esses tratados, que não passavam em última análise de edições corretas e aumentadas dos tratados anteriores, suscitaram sem demora as mais acerbas críticas. Houve sem dúvida quem os defendesse, o futuro Cairú à frente: Henry Koster pretendeu também demonstrar-lhes as excelências, inclusive a da cláusula relativa à justiça especial, o chamado "Juiz Conservador da Nação Inglesa", criado aliás desde 4 de maio de 1808: mas Hipólito da Costa analisou-os admiravelmente no Correio Brasiliense e a opinião geral não se deixou iludir. Em pouco os ingleses se tornaram impopulares, e mais do que ninguém os comerciantes portugueses, até então donos sem concorrência do comércio do Brasil, fomentaram essa hostilidade. Um deles disse que eram "uma aranha por toda parte" e que se devia temer mais um escritório comercial inglês do que todas as peças da artilharia britânica. De fato os portos brasileiros foram rapidamente abarrotados de toda sorte de mercadorias inglesas, produtos de ferro, vidro, cobre, lã, louça, cutelaria, móveis, sapatos, roupas, colchões e, segundo Sierra y Mariscal, até caixõezinhos já enfeitados para enterrar crianças.

Cumpre todavia encarar a atividade dos ingleses entre nós na primeira metade do século XIX sob outros prismas que não o da ganância comercial e não perder a serenidade de julgamento diante dos excessos e das impertinências do seu então jovem imperialismo. É o que faz Gilberto Freyre. Não que lhe falte ânimo para exprobrar demasias ou que omita a arrogância de certos súditos de Sua Majestade Britânica. Mas num ensaio como Ingleses no Brasil há pouco espaço ou até não há nenhum para definições de ordem moral ou considerações de índole política. Não se visa a fixar o sentido do imperialismo britânico nas suas relações com o Brasil; a conquista de mercados através de tarifas aduaneiras conseguidas mais pelas imposições de nação poderosa do que por conveniências recíprocas: nem se tem em mira a influência inglesa por detrás das notas do Foreign Office ou de seus diplomatas nem sempre macios. Não estarão em cena ingleses eminentes, grandes homens, mas negociantes, cônsules, missionários, engenheiros. O que se vê neste livro é realmente o estudo histórico-sociológico

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