Ingleses no Brasil

Aspectos da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Brasil

da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Brasil, à luz de uma sempre arguta interpretação psicológica. E isto feito sem nenhuma espécie de improvisação, com o arrimo de tão copiosa massa de documentos que a alguns leitores pareceria até prodigalidade ou luxo. Reparo entretanto descabido, já que isso assume para o autor senão a importância de um sistema pelo menos a de uma técnica de trabalho voluntariamente adotada. Dessas centenas e centenas de anúncios de jornais e de ofícios de cônsules, transcritos ou citados, Gilberto Freyre extrai tudo o que é indispensável para definir os traços culturais acrescentados à vida brasileira graças ao contacto com homens, ideias, costumes, objetos, cousas de procedência inglesa. Marca britânica de que já haveria algum sinal antes, mas que se acentuou e cresceu com a chegada da família real portuguesa em 1808, ano dessa chegada e da dos ingleses; não só de Lord Strangford e Sir Sidney Smith, como de muitos comerciantes e aventureiros. De um John Luccock ou de um John Mawe, por exemplo. Daí em diante, em ritmo acelerado, aportariam aqui, ao lado de homens, artefatos ingleses, objetos de ferro, de aço, de cobre, de vidro, atuando decisivamente sobre a psicologia dos brasileiros e a paisagem urbana.

Gilberto Freyre dá-nos um imenso rol de tudo quanto se ficou a dever aos ingleses, desde o uso do chá, da cerveja e do pão de trigo, até o bife com batatas, a residência em subúrbio, o water-closet e — last but not least — o júri e o habeas corpus. Dívida enorme, mas que rivaliza no vulto com a que contraímos com os franceses. E seria interessante pesquisar até onde algumas influências inglesas, principalmente de ordem política e intelectual, vieram por intermédio da França, onde não faltaram nunca anglicistas e anglófilos. Havia aqui mais gente sabendo ou lendo francês do que inglês e as obras de autores britânicos chegavam em francês, como Tactique des Assemblées, de Bentham, cuja venda João Pedro da Veiga e Comp. anunciavam pelo Diário do Rio de Janeiro de 11 de outubro de 1823. Não quer isso dizer que não se conhecesse a língua inglesa, nem que os livros ingleses não fossem lidos. Se é certo que desde 1699 se criara no Rio uma aula de francês para militares, ao tempo de D. João VI havia professores régios não só de francês como de inglês. Evaristo da Veiga foi discípulo, em 1818, de João Joyce, que lhe passou atestado pela rapidez, perfeição e facilidade com

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