que traduzia o idioma inglês. Então, decorridos já dez anos de acentuada preponderância britânica nos negócios do Brasil, não faltaria quem possuísse livros ingleses. Não seriam apenas os numerosos comerciantes súditos de S.M.B., a expulsarem os portugueses das antes tão portuguesas ruas Direita, da Alfândega, dos Pescadores, do Rosário, da Quitanda, os únicos que liam em inglês. Evaristo não constituía exceção.
Neste ensaio se focalizam todas as atividades era que se empenharam os britânicos no Brasil, tudo quanto o capital e a técnica, o espírito de aventura e o espírito de organização, a ciência e o comércio dos ingleses realizaram ou tentaram realizar. Se comerciantes britânicos se espalharam por nossas cidades, de preferência Rio, Recife e Salvador, não escassearam os empreendimentos ingleses de mineração e, quando a tração a vapor permitiu as estradas de ferro, mais do que em qualquer outra esfera os ingleses patentearam aí a sua superioridade técnica e científica. Este é dos aspectos mais originais e ricos de sugestões do grande livro que se acrescenta hoje à Coleção Documentos Brasileiros. Ao estudá-lo, Gilberto Freyre proporciona a seus leitores algumas das melhores páginas de toda a sua obra de sociólogo e historiador social, porque nelas está o ensaísta que sabe penetrar a parte humana — no melhor sentido da expressão — da empresa comercial ou industrial, a porção de aventura e até de poesia escondida no construtor de ferrovias ou no explorador de minas.
Nova luz traz Ingleses no Brasil no tocante à valorização entre nós de ofícios ou profissões antes tidos como desprezíveis ou menos nobres — de mecânico, por exemplo, ou de negociante. Quanto a este, nota que a figura do comerciante em grosso se emparelhou com a dos fidalgos e desembargadores, pelas moradias, pelas roupas, pelas carruagens. Influências inglesas no vestuário, no chapéu, na jaqueta, nas casacas, nas meias, nos lenços, nas luvas, nas calças de montaria, tudo desses panos, lãs e tecidos que a indústria britânica orgulhosamente fabricava, desbancando fazendas orientais antes tão apreciadas. Influências inglesas nos objetos de uso doméstico, como as louças que poriam em cheque as asiáticas tão comuns aqui que o Almanaque do Rio de Janeiro de 1792, mencionava na pequena cidade colonial nada menos de doze lojas de louça da Índia. Influências inglesas de ordem menos material verificada na forma do culto religioso. Influências inglesas